Carlos Resende considera, em entrevista à agência Lusa, que a "época excelente" do ABC de Braga/Uminho, que conquistou o campeonato de andebol, a Taça Challenge e a Supertaça, não é fruto do acaso.

"Já no ano passado demos indícios muito positivos. Este ano foi claramente melhor, é uma época excelente, mas foi um desenvolvimento da época anterior, não é um resultado que surge do nada", afirmou o treinador.

Resende defendeu que não se pode "comparar o incomparável", porque são "épocas, atletas e adversários diferentes", mas, "sem dúvida que, pelos resultados obtidos, este tem de ser considerado um dos melhores anos de sempre".

Carlos Resende, de 45 anos, conquistou no passado sábado o 13.º título para o ABC, o seu segundo como treinador (ganhou, pelo FC Porto, em 2008/09), num emocionante e renhido quinto jogo do ‘play-off', diante do Benfica, após prolongamento.

A cerca de quatro minutos do fim, os bracarenses perdiam por quatro golos, mas a mudança do sistema defensivo por Carlos Resende permitiu uma reviravolta fantástica do ABC diante de um Benfica que liderou a partida durante muito mais tempo e parecia ter o jogo controlado.

"Senti que tínhamos que fazer alguma coisa de diferente e aquele era o momento do tudo ou nada. Arriscámos e acabámos por ter essa felicidade", recorda.

Entre outros, o treinador destaca como momentos-chave da temporada a conquista da Supertaça frente ao FC Porto porque "passou uma mensagem para o interior do grupo de que era possível" e a contratação de Pedro Spínola (ex-Sporting) em janeiro.

Confessando-se um competidor nato, Carlos Resende festejou o título que já fugia ao ABC desde 2006/07 com "os pés muito assentes na terra".

"Sou muito sereno nos festejos e também nas derrotas e tenho a humildade de reconhecer que, se o jogador do Benfica tem marcado aquele último remate, era o Benfica que hoje estava de parabéns, as entrevistas eram todas para o seu treinador e isso não ia querer dizer que tínhamos feito uma má época ou que tínhamos trabalhado mal", disse.

A próxima temporada significará o regresso do ABC à Liga dos Campeões, mas, mais do que reforços para enfrentar essa competição bem mais exigente que a Taça Challenge, Carlos Resende deseja uma ‘casa' nova.

"É uma necessidade, uma emergência. Com a Liga dos Campeões e a candidatura de Braga a cidade europeia do desporto faz todo o sentido. Não conheço o caderno de encargos, mas até pode ser mais barato construir de novo do que reconstruir", aludiu.

Lisboeta de nascimento, mas radicado no Norte para onde se mudou muito jovem proveniente do Sporting para o FC Porto, aquele que é considerado por muitos o melhor jogador português de sempre não descarta treinar no Sul.

"Mudei a minha vida de Lisboa para o Porto, mas se tivesse que acontecer, mudaria também do Porto para Lisboa ou para outro lado qualquer, desde que fosse uma mudança interessante. Para melhor, mudamos sempre", disse.

Também professor universitário na área do andebol e da gestão do desporto, nota que só com grande organização consegue conciliar as atividades, sendo que "há momentos em que algumas coisas se atrasam".

O doutoramento na área do gestão de desporto, a sua área de formação académica, é uma delas porque, neste momento, "é impossível conciliar treinar, dar aulas, ser pai e marido".