Os dois vencedores deste ano da Corrida da Liberdade, realizada na Cidade da Praia, enalteceram terça-feira a evolução do atletismo em Cabo Verde, mas pediram mais apoios e atenção à modalidade, uma reivindicação "natural", disse fonte federativa.

Em entrevista à agência Lusa, tanto Adilson Spencer, vencedor da prova masculina, como Crisolita Rodrigues, campeã pela quarta vez consecutiva da corrida feminina, reconheceram que o atletismo em Cabo Verde é das modalidades que mais evoluiu nos últimos anos, mas consideram que deveria merecer mais atenção por parte do Governo, empresas e outras entidades do país.

“O atletismo ainda não está num nível muito alto em Cabo Verde, mas há muitos atletas com bom potencial, que estão a empenhar. O que está a faltar, se calhar, é mais apoios, do Governo, de outras entidades, para elevar o nível da modalidade”, lamentou Adilson Spencer, que venceu hoje a Corrida da Liberdade pela quinta vez em sete edições.

Segundo o maratonista, com mais apoios, há muitos atletas em Cabo Verde que podem competir a nível internacional com outra preparação e argumentos para ganhar medalhas.

“Nos últimos anos, apostou-se mais no futebol, esquecendo-se do atletismo. Mas é a modalidade que ganhou mais medalhas lá fora [14 no ano passado]”, indicou o corredor, dizendo que os atletas ainda sentem-se motivados porque gostam da modalidade.

Adilson Spencer, considerado o ‘rei’ das estradas cabo-verdianas, reconheceu que já foram dados alguns passos, sobretudo na criação de infraestruturas, mas lamentou o facto de Estádio Nacional, inaugurado em agosto último, estar ainda fechado para treinos na pista de tartan.

“A modalidade de atletismo passou a ser mais conhecida a partir de 2012 quando ganhei a medalha de bronze em Macau. Em 2013 fiquei em quinto lugar e em 2014 voltei a ganhar a medalha de bronze”, contextualizou Crisolita Rodrigues, dizendo que, apesar destes feitos, não tem tido qualquer apoio.

A atleta acrescenta que “só agora estão a prestar mais atenção” ao seu percurso: “Mereço. Treino todos os dias, com muita motivação. Quero que prestem mais atenção ao atletismo, sobretudo às muitas atletas que estão a aparecer agora”, pediu a corredora de 38 anos, mas que ainda continua a dominar as provas de estrada em Cabo Verde.

Abordado sobre as reivindicações dos atletas, o presidente da Federação Cabo-verdiana de Atletismo (FCA), Fernando Pinto, reconheceu à Lusa que há um “grande esforço” de atletas, treinadores, dirigentes, agentes desportivos, patrocinadores e Governo, mas disse ser “natural” que cada um gostaria de ter “um bocadinho mais”.

“Mas temos de ter a noção que Cabo Verde não é um país que produz, apenas presta serviços e recebe muito apoio de fora e é esse apoio que recebe de fora que tem de distribuir um pouco por cada lado”, referiu.

Fernando Pinto reconheceu que algumas modalidades têm mais apoios do que outros, mas entendeu que é fruto do trabalho de cada um ao longo dos tempos.

“Temos que trabalhar mais, aprender mais, apostar na formação e na edução dos jovens, nas escolas primárias, liceus, fazer crescer não só desportistas, mas também cidadãos”, apelou Fernando Pinto, dizendo que os atletas cabo-verdianos devem seguir o exemplo da antiga maratonista portuguesa Rosa Mota, que foi madrinha e convidada especial da Corrida da Liberdade, e ter muita vontade, querer, trabalho e treinar sempre.