Hoje o antigo capitão do Benfica e o primeiro africano a erguer uma Taça dos Campeões Europeus tem 75 anos e vive em Maputo. Mas recorda muito bem quando, há 50 anos, o miúdo Eusébio chegou a Portugal.

Mário Coluna nasceu em Magude, província de Maputo, e quando adolescente vivia no bairro do Alto Maé, na então Lourenço Marques, quando do outro lado, no bairro da Mafalala, Eusébio brincava ainda com outras crianças.

Como Eusébio, jogou com bolas feitas de trapo, como Eusébio a ida para Portugal foi marcada pela competição entre Benfica e Sporting.

Numa vinda a Moçambique a equipa de Alvalade falou com o pai de Mário Coluna, um “benfiquista ferrenho”, manifestando interesse no jogador. O sinal para o homem contactar o Benfica e dizer: “Os lagartos querem o meu filho”. A resposta foi imediata: “Mete esse miúdo no primeiro avião”.

A ida de Eusébio para Portugal há 50 anos, lembra hoje Mário Coluna, também foi marcada pela rivalidade entre as duas equipas de Lisboa.

A começar na capital moçambicana. Eusébio queria jogar no Desportivo, ligado ao Benfica, mas acabou no Sporting de Lourenço Marques: “O roupeiro [do Desportivo], não sei porquê, disse que não havia mais equipamento para lhe dar e como o Eusébio queria jogar à bola saltou o muro”.

Os campos eram pegados e estão hoje quase abandonados, na baixa de Maputo. No meio do relvado, Mário Coluna lembra que foi ali que o jovem jogador “foi crescendo, crescendo, foi-se desenvolvendo”, até que em 1960 “houve uma informação para o Benfica de que havia um jogador que se chamava Eusébio e era bom jogador”.

Perante o também interesse do Sporting, o representante do Benfica na então Lourenço Marques levou à mãe do jogador o dinheiro que esta pedia para deixar que o jovem fosse para Lisboa. Em troca recebeu uma carta assinada em que a mãe de Eusébio autorizava o filho a jogar em Portugal, mas só no Benfica.

Na altura, a mãe do jogador escreveu uma segunda carta, esta dirigida a Mário Coluna. “O Eusébio chegou lá e entregou-me a carta que era da mãe. Eu abri a carta à frente dele, li e quando acabei dei-lha para ele ler. O Eusébio leu a carta [e disse]: ‘A mãe está a pedir para o senhor Coluna tomar conta de mim, que aqui não conhecemos ninguém’”.

Mário Coluna assim fez. No dia seguinte levou-o à Caixa Geral de Depósitos para preencheram os formulários de abertura de conta. “Eu é que fiquei com a caderneta. Todos os meses, quando ele recebia, íamos juntos à Caixa fazer o depósito e eu dava-lhe 500 escudos”.

Seguiu-se outra etapa obrigatória: “Depois levei-o ao meu alfaiate e mandei fazer dois fatos para ele. Mandei que ele escolhesse, para ele andar vestido igual aos colegas”.

Mário Coluna foi padrinho de casamento da mulher de Eusébio e foi também ele quem lhes arranjou casa, perto de onde morava na altura, em Linda-a-Velha.

“[Depois do casamento] Convidei-os para irem jantar lá em casa e depois do jantar sentámo-nos na sala, trouxe a caderneta e disse: vocês agora são chefes de família, a partir de agora são vocês que vão orientar o vosso dinheiro no banco”, recorda.

O resto faz parte da história. Eusébio e Mário Coluna continuam amigos até hoje e sempre que o “Pantera Negra” está em Maputo encontram-se.

Em Lisboa, “nesses tempos”, Coluna ia às escondidas beber um whisky porque “não podia levar o miúdo”. Em Maputo, hoje, costumam encontrar-se na Associação Portuguesa, sentam-se sempre na mesa do canto e bebem “um copo”. Coluna e “o miúdo”.

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