Quando a 74.ª Volta a Portugal em bicicleta arrancar a 15 de agosto, a David Blanco restará acreditar que é possível concretizar com sucesso o assalto ao recorde de cinco vitórias na prova.
«Se não pensasse que posso conseguir era melhor não tentar. Penso que sim, só que é evidente que é muito complicado, mas se começar a achar que é complicado, que posso não conseguir estou a começar mal», começou por dizer à Lusa.
E se há coisa que David Blanco não quer é começar mal, depois de tudo o que passou – um ano catastrófico na aventura estrangeira da Geox, um período conturbado em que queria regressar a Portugal, mas não tinha onde - para chegar ali, a Castelo Branco e à partida da 74.ª edição da prova rainha do ciclismo português.
Por isso, o quádruplo vencedor da Volta (2006, 2008, 2009 e 2010) sabe o que precisa de fazer: «Tenho de acreditar e depois a estrada vai pôr cada um no seu sítio».
A estratégia está traçada, os pontos difíceis estão identificados, com o ciclista da Efapel-Glassdrive a apontar «a velocidade a que vão os outros» como o maior problema na sua luta particular para ultrapassar a marca que partilha com Marco Chagas (1982, 1983, 1985 e 1986) e Ricardo Mestre como o grande rival nessa contenda.
«O principal adversário é o Ricardo. Ganhou o ano passado, tem uma equipa muito forte. Ele é o principal adversário, não tenho dúvida nenhuma», identificou.
Os dois conhecem-se bem, pelos anos que conviveram como líder e gregário na equipa de Tavira, no entanto, o galego não vê isso como um fator decisivo na luta nas estradas portuguesas.
«Passámos tantos anos a correr juntos... Com ele, com o Nélson [Vitorino] e com todos os corredores do Tavira. Conhecemo-nos todos muito bem, sabemos a forma de correr de cada um. Como eu sei dele, ele sabe de mim. Estamos em igualdade de circunstâncias», explicou.
Blanco ganhou três das suas quatro amarelas (a de 2006 foi pela Comunitat Valenciana) pelos tavirenses e isso é algo que não esquecerá nos 1.605 quilómetros desta edição, que termina a 26 de agosto em Lisboa.
«É complicado. Levo uma época inteira a correr noutra equipa, onde me estou a sentir muito bem, onde me estão a ajudar muito e confio plenamente neles. É óbvio que é esquisito não correr no Tavira, mas eu queria lutar por ganhar a quinta Volta e não podendo ser no Tavira tinha de ser noutro lado e o Carlos Pereira [diretor da Efapel-Glassdrive] deu-me uma oportunidade», agradeceu.
Para o espanhol mais português do pelotão, de 37 anos, «o importante é participar e tentar ganhar», no entanto, se não estiver à altura de o fazer trabalhará para um dos seus colegas, todos eles com currículos de luxo.
«Os nomes são iguais, o resultado é o que importa. Se não for eu, que seja qualquer um deles, o mais importante é que a equipa ganhe. Conheço-os todos, eles a mim, não há problema de eles trabalharem para mim ou, no meu caso, se vir que não estou em condições de ganhar a Volta trabalhar eu para eles», admitiu.
Blanco sabe que «os nomes não ganham corridas, as corridas ganham-se na estrada», mais especificamente em dois momentos, ou melhor, num: «Penso que a Senhora da Graça decide quem não pode ganhar e a Torre decide quem pode ganhar a Volta. Realmente é onde se fazem as diferenças».
E se não conseguir vencer a quinta este ano? E se conseguir bater o recorde? As perguntas impõem-se, mas o antigo corretor da Bolsa de Madrid não abre o jogo.
«Não sei. Quando acabar a Volta é que saberei o que fazer com a minha vida», confessou.