O médico no centro do escândalo de doping do ciclista norte-americano Lance Armstrong está em vias de ser acusado criminalmente em Itália pelo procurador de Pádua, que defende uma Interpol exclusiva para o doping no desporto.
“O relatório ainda não está pronto, mas já está perto de ser concluído”, revela o procurador, que na investigação terá chegado até cerca de 70 presumíveis implicados, 20 dos quais atletas, além de médicos, preparadores físicos e massagistas.
Benedetto Roberti é o magistrado que nos últimos anos está a preparar o processo contra o médico italiano Michele Ferrari, partes do qual resultaram num relatório de 200 páginas que serviram para a USADA (Agência Antidoping dos Estados Unidos) irradiar Armstrong do ciclismo e ser despojado dos sete títulos na Volta a França.
Uma fonte ligada ao processo garante que este processo já está «oficialmente fechado» e que «Armstrong não está sob investigação»: «Não há americanos, mas há vários estrangeiros. Não há jogadores de ténis ou atletas conhecidos de outros desportos».
As acusações podem ser o próximo passo para os identificados no processo.
Ferrari foi ilibado em 2006 das acusações criminais de distribuir produtos proibidos aos atletas, mas continua irradiado pela federação italiana de ciclismo por uma decisão de 2002.
Nos Estados Unidos foi banido este ano face a um relatório que indica que «Armstrong recebeu muito mais do que ocasionais conselhos de treino», como está refletido nos pagamentos de mais de perto de um milhão de euros feitos pelo ciclista a uma empresa suíça “Saúde e Performance SA” controlada por Ferrari.
«Os repetidos esforços de Armstrong e dos seus representantes para descaracterizar e minimizar a relação de Armstrong com Ferrari são indicativos da verdadeira natureza dessa relação», refere o relatório.
O procurador Benedetto Roberti espera que o caso Armstrong sirva de inspiração para reforçar a batalha contra o doping: «É preciso uma organização ao nível da AMA (Agência Mundial Antidoping) que realize investigações, trocas e cruzamento de informação».
«Este caso só funcionou realmente devido às vontades próprias dos indivíduos, que fizeram isto voluntariamente. Precisamos de algo que funcione sempre e que não dependa apenas de vontades pessoais», alertou.
Uma reunião em novembro de 2010 em Lyon, França, entre pesquisadores de vários países foi essencial no avanço e sucesso do inquérito a Lance Armstrong.
«Precisamos de uma Interpol exclusivamente para combater o doping no desporto, com poderes para chamar a polícia e a justiça, com funcionários com experiência nesse campo. Essas pessoas existem nos Estados Unidos, Itália, França e Alemanha, bem como alguns em Espanha», concluiu Roberti.