Na sexta-feira faz dez anos que morreu Marco Pantani, vítima de uma overdose que representa a atração pelo doping e pelas drogas daquele que é tido como um dos melhores trepadores da história do ciclismo.

Último ciclista a vencer as voltas a França e a Itália no mesmo ano, há já 16 anos, apareceu morto num quarto de hotel em Rimini, em Itália, depois de dias isolado do mundo, longe de família e amigos, e de um desenfreado consumo de cocaína, que culminou num edema cerebral e numa falha cardíaca.

A queda do mito italiano, que arrastou consigo multidões, fascinadas pela imagem do “Pirata” – lenço na cabeça, cabelo totalmente rapado, argola na orelha, num corpo franzino de 57 quilos distribuídos por 1,72 metros -, pelo seu carisma e estilo característico de pedalar, começou quando foi expulso da edição de 1999 da Volta à Itália.

Pantani liderava a classificação geral, com mais de cinco minutos de vantagem sobre o segundo, o compatriota Paolo Savoldelli, a classificação da montanha e já tinha conquistado quatro etapas.
Faltava apenas uma etapa de montanha, quando uma análise ao sangue do italiano revelou um hematócrito de 52 por cento, superior ao limite estabelecido pela União Ciclista Internacional (UCI) e um dos indicadores do recurso à EPO, facto que levou a organização a afastá-lo da corrida e a impor-lhe uma pausa de duas semanas.

Depois daquela que foi a melhor época da sua carreira, com a dobradinha nas duas provas por etapas mais importantes do calendário velocipédico internacional, “Il Pirata” desapareceu do radar.

O homem que na estreia no Tour, em 1994, fez terceiro, um resultado que repetiria em 1997, e ganhou por duas vezes a camisola da juventude, nunca mais fez um resultado digno de registo.

Apesar de nunca ter dado positivo durante a sua carreira, a vida e o percurso profissional do italiano nunca mais deixaram de ser ensombrados pelo doping: em 2000, no regresso ao Giro, não foi além do 28.º lugar, e só viria a terminar uma grande Volta por mais uma vez, quando foi 14.º na “corsa rosa” de 2003.

Pelo meio, em 2001, também na corrida que fez dele o ciclista preferido dos italianos, encontraram uma seringa com insulina no seu quarto, o que motivou uma suspensão por oito meses, que mais tarde foi revogada devido à ausência de provas contra si.

Mergulhado numa profunda depressão, tentou provar em tribunal a sua inocência, sem sucesso junto da opinião pública, durante aqueles que agora, depois do caso de Lance Armstrong, são conhecidos como os anos negros do ciclismo.

"Durante quatro anos, estive nos tribunais, perdi o meu desejo de ser como os outros atletas. Todos os meus colegas foram humilhados, com câmaras de televisão escondidas nos seus quartos de hotel para tentar arruinar as suas famílias. Como não magoar-me depois disso?”, escreveu no seu passaporte durante uma viagem a Cuba, numa nota que foi lida durante o seu funeral.