A 101.ª Volta a França vai ser palco do primeiro grande duelo entre Rui Costa (Lampre-Merida) e Tiago Machado (NetApp-Endura), os dois melhores ciclistas lusos da sua geração, que, pelas suas características, o percurso profissional separou.

Nos bastidores do pelotão português, é praticamente unânime que Rui Costa e Tiago Machado são os melhores ciclistas da sua geração. Os dois escusam-se a aceitar o rótulo, negam qualquer tipo de rivalidade e até consolidaram uma amizade mais próxima no último Mundial, que valeu a camisola arco-íris ao primeiro.

Rui e Tiago são dois opostos, água e azeite. Costa, considerado o corredor mais inteligente a correr no ciclismo atual, é contido, tímido. Rodeado pela família e pela namorada Carla, limita ao máximo a exposição – recusou mesmo conceder qualquer entrevista individual antes da Volta a França. É racional. Lança os seus ataques com precisão, raramente falha um “timing”. Calculista e ponderado, não ataca se não for para ganhar.

Aos 27 anos, com três etapas no Tour no currículo e uma camisola arco-íris no corpo, o poveiro traçou a sua carreira a régua e esquadro: depois de duas épocas no Benfica, logo na sua estreia como profissional (2007 e 2008), assinou pela Caisse d'Epargne, equipa espanhola que representou até ao ano passado, já como Movistar, e só de lá saiu quando outra formação lhe ofereceu o papel de líder.

Tapado na Movistar pelo proeminente colombiano Nairo Quintana, segundo classificado no Tour2013 e vencedor da camisola da montanha, e pelo espanhol Alejandro Valverde, o epicentro da estratégia dos espanhóis, agarrou a oportunidade oferecida pela Lampre-Merida e respondeu ao voto de confiança dos italianos com o triunfo no Mundial de Florença.

O título de campeão do Mundo e a terceira vitória consecutiva na Volta à Suíça, um recorde, faz com que chegue ao Tour com os olhos do Mundo postos em si e com a pressão de ser, pela primeira vez, chefe de fila na principal prova velocipédica do calendário internacional.

Já Tiago Machado vai partir de Leeds, no sábado, sem qualquer expetativa sobre si, fora aquela que o estatuto de “queridinho” no panorama nacional da modalidade lhe confere.

Impulsivo e emocional, pautou toda a sua carreira por ataques desmedidos, sem cálculo, de pura força, e por tiradas brilhantes que alimentam todo um texto jornalístico, inspirado por uma sinceridade desarmante dentro e fora da estrada, que não permitem um meio termo entre as preferências dos adeptos.

Ao contrário de Costa, o ciclista de Famalicão, de 28 anos, fez um longo percurso em território nacional, sempre nas variantes do Boavista, até que, depois de cinco épocas no pelotão português, emigrou para a grande RadioShack, equipa na qual evoluiu com vários resultados consistentes em 2010.

Apesar dos azares – três quedas na primeira semana -, foi 19.º na estreia no Giro, em 2011, e terminou a Vuelta da mesma temporada em 32.º, depois de ser sétimo no contrarrelógio. 2012 também não foi mau, mas o ano passado foi para esquecer, com a saída da RadioShack a ser inevitável.

A renascer das cinzas, qual Fénix – a imagem é do próprio -, chega ao Tour como vencedor da Volta à Eslovénia e preparado para, ao seu estilo, seguir as pisadas do seu compatriota e amigo.

“O Rui leva o arco-íris e só por isso já parte em vantagem. O Rui é um ciclista que já tem nome no pelotão, já toda a gente o respeita um pouco mais do que a mim, mas não é isso que irá fazer a diferença. O Rui é um ciclista muito forte e eu não vou estar em competição contra ele”, garantiu em conversa com a Agência Lusa, assumindo que se o campeão do Mundo precisar de ajuda, ele estará do seu lado.

Costa, durante a conferência de imprensa posterior aos nacionais de contrarrelógio, na sexta-feira passada, preferiu ser mais contido: “Eu corro pela Lampre-Merida, eu vou fazer o meu, o Tiago vai fazer o dele. Mas é sempre bom ter o Tiago. É uma excelente pessoa. Somos amigos. É a primeira vez do Tiago, é preciso encarar com calma, porque o Tour tem de se conhecer bem. O Tiago tem muitas possibilidades, confio nele”.

A Volta a França arranca sábado em Leeds, no Reino Unido, e termina 27 de julho, em Paris.

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