Nelson Oliveira e Tiago Machado deixaram hoje uma imagem única nos Mundiais de ciclismo, ao sentarem-se, lado a lado, na poltrona reservada aos melhores do contrarrelógio de elite, da qual saíram, respetivamente, para os 7.º e 11.º lugares.

Na melhor jornada de sempre do ciclismo português num contrarrelógio individual de elite num Mundial de estrada, Nelson Oliveira, que no ano passado tinha sido 15.º em Florença, foi destronado do primeiro lugar apenas pelos seis melhores especialistas, depois de ter passado mais de uma hora na posição do ouro, mas cumpriu o seu objetivo declarado, ficar entre os 10 primeiros, um “top” que escapou a Machado por muito pouco.

Eram 14:02 em ponto em Ponferrada (menos uma em Portugal continental) quando o maior desafio da vida de Nelson Oliveira começou. Três, dois, um, rampa descida e 47,1 quilómetros a percorrer rumo àquele que o oito vezes campeão português da especialidade, nas diversas categorias, esperava ser o seu primeiro “top 10” entre as elites num Mundial.

O vice-campeão mundial de sub-23 (2009) tinha o seu primeiro grande teste ao quilómetro 12,23. 12.º ciclista a passar no primeiro ponto intermédio de cronometragem, o contrarrelogista português fez o segundo melhor tempo, a escassos dois segundos do moldavo Alexandr Pliuschin.

Sem imagens da estrada, a delegação portuguesa fazia contas enquanto o nome do corredor da Lampre-Merida não surgia na listagem de ciclistas a passar aos 23,2 quilómetros. A espera pareceu eterna, mas lá apareceu o jovem de Anadia com o melhor tempo, 11 segundos à frente de Pliuschin, quase ao mesmo tempo que Tiago Machado (NetApp-Endura) saía para a estrada.

O primeiro lugar no segundo ponto intermédio espantou os receios da seleção portuguesa: Oliveira estava a saber lidar com a pressão. Na estrada, Oliveira dobrou o norueguês Vegard Breen, que tinha partido dois minutos à sua frente, um momento fundamental para dar ainda mais ânimo, redobrado com nova ultrapassagem, desta vez o esloveno Matej Mohorovic, que tinha começado o seu percurso quatro minutos antes.

Mas, surpreendentemente, Machado, que até admitiu não ter treinado muito com a “cabra” [bicicleta de contrarrelógio] esta temporada, fez ainda melhor (menos dois segundos) do que o seu companheiro no primeiro ponto intermédio.

O duplo campeão nacional em título, depois de, aos 35.28 quilómetros, último ponto fixo antes da meta em Ponferrada, ter feito o primeiro tempo, cruzou a meta, após nova ultrapassagem, diretamente para a “poltrona” reservada ao mais rápido.

Curiosamente, o grande rival de Oliveira, segundo os dados instantâneos vindos do GPS, era “Tiaguinho”, que ficava a três segundos do tempo do seu grande amigo no segundo ponto intermédio.

Com um ótimo tempo (57.47 minutos) e uma ótima média (48,900 km/h), o corredor da Lampre-Merida, de 25 anos, esperou e esperou, tal como aconteceu ao sub-23 Rafael Reis na segunda-feira, enquanto via desfilar diante dos seus olhos 52 adversários, durante 01:23 horas.

Machado chegou, com um registo de 58.17 minutos, bateu-lhe na mão e sentou-se ao seu lado. Os dois tiveram tempo de conversar, tirar uma “selfie”. Com a chegada dos últimos a partir, teoricamente os melhores nesta luta contra o cronómetro, o ciclista da NetApp-Endura saltou para fora da poltrona e lá ficou, de pé, à espera do destino do seu colega.

Com apenas seis ciclistas para chegar, Oliveira era primeiro, mas rapidamente o sonho de uma medalha se evaporou: Vasil Kiryienka destronou-o, Rohan Dennis relegou-o para o terceiro lugar e Adriano Malori roubou-lhe o bronze.

Faltavam ainda chegar três, e logo os melhores três, o campeão olímpico em título e agora campeão mundial, o britânico Bradley Wiggins, o tricampeão destronado, o alemão Tony Martin, e o holandês Tom Domoulin, o medalhado de bronze pelo segundo ano consecutivo.

Para Oliveira, ainda a refazer-se da longa espera que o fez sonhar com uma medalha, o “top 10”, em que quer entrar para não mais sair, é já uma realidade: foi sétimo, a 01.21 minutos de Wiggins. Machado ficou a oito segundos dos dez primeiros, com um atraso de 01.52 minutos para o novo campeão mundial.