Tony Martin repôs hoje a justiça no pelotão, ao vestir a camisola amarela que lhe fugiu nas três primeiras etapas da Volta à França, com um triunfo em Cambrai, Bélgica, provando ser um dos ‘senhores’ do ciclismo.

Combativo, o ciclista alemão da Etixx-Quickstep, um dos mais respeitados e queridos do pelotão, deixou para trás o grupo de favoritos, uma série de coincidências infelizes que o separaram por segundos da amarela durante os três primeiros dias do Tour e uma avaria na bicicleta para, a 3,3 quilómetros da meta em Cambrai, depois de sete setores do ‘pavé’ belga, rumar em estilo de contrarrelógio para a vitória na quarta etapa e para a merecida liderança na geral.

O sorriso exuberante com que cortou a meta, após 5:28.58 horas a pedalar e de 223,5 quilómetros desde Seraing, e o abraço efusivo que deu aos companheiros, o maior dos quais a Matteo Trentin, que lhe emprestou a bicicleta quando o alemão sofreu um furo a 20 quilómetros da chegada, demonstravam a “pura felicidade” sentida por Martin.

“Hoje todo o azar se transformou em sorte. Antes do último setor de ‘pavé’ furei e tive de mudar de bicicleta. Deixei de acreditar na vitória na etapa, só queria ficar com os melhores. Ninguém queria assumir a corrida, aproveitei o momento em que todos estavam a vigiar-se. Aproveitei, fui ao máximo e segui. Não sei bem o que aconteceu. Estava nervoso, mas continuei a puxar, a puxar. Não acreditava nesta vitória e aconteceu. De alguma maneira ainda não consigo acreditar”, disse o três vezes campeão mundial de contrarrelógio (2011-2013).

O corredor de 30 anos, que somou a sua quinta etapa no Tour, a segunda em linha depois de Mulhouse no ano passado, passou os últimos três dias no segundo lugar da geral: na primeira etapa, ficou a cinco segundos de Rohan Dennis (BMC), que beneficiou ao partir ao princípio da tarde para o ‘crono’, na segunda viu Fabian Cancellara (Trek) roubar-lhe a liderança por três segundos por ter conquistado quatro de bonificação, e na terceira perdeu a amarela por seis centímetros para Chris Froome (Sky), que também bonificou para lha tirar.

“Toda a pressão e a tristeza dos últimos dias desapareceram”, assumiu o ciclista da Etixx-Quickstep, que, pela primeira vez, está de amarelo na Volta a França.

A exibição de Martin foi tão genial que até o homem que perdeu a amarela – Froome é agora segundo, a 12 segundos, depois de ter cedido três na etapa, com Tejay Van Garderen na terceira posição, a 25 – deu os parabéns ao alemão: “Foi uma grande performance. Ele esteve sempre perto da amarela e definitivamente merece vesti-la pelo trabalho que fez.”

Num dia tranquilo para Froome, Vincenzo Nibali (Astana), Nairo Quintana (Movistar) e Alberto Contador (Tinkoff-Saxo), que chegaram todos no primeiro pelotão, a três segundos de Martin, depois de mexidas que não deram em nada, só Thibaut Pinot (FDJ) pode queixar-se do efeito devastador do ‘pavé’.

O terceiro classificado de 2014 furou e esteve longos segundos à espera de assistência (quando esta chegou, berrou e berrou com o seu mecânico). Poucos quilómetros à frente voltou a ter um problema mecânico e, num ato de desespero, atirou a bicicleta ao chão, reconhecendo sem palavras o que o seu atraso na meta (03.23 minutos) confirmaria: a sua candidatura ao pódio está seriamente comprometida (já está 06.30 minutos do primeiro).

Na quarta-feira, na quinta etapa, os ‘sprinters’ terão novamente uma oportunidade, nos 189,5 quilómetros entre Arras e Amiens.