Gustavo Veloso e Rui Sousa consideraram hoje “absurda” e “descabida” a nova norma que impõe a obrigatoriedade de o plantel das equipas de ciclismo portuguesas terem 60% do plantel com menos de 28 anos.

“Penso que é absurda num país onde as equipas continentais e os amadores, com exceção da Volta ao Algarve e da Volta a Portugal, dividem calendário. Será prejudicial, porque o nível competitivo será mais baixo, já que um ciclista atinge a maturidade física e psicológica a partir dos 28 anos. Não tem sentido obrigar bons profissionais a abandonarem o ciclismo sem terem podido mostrar o seu valor. A sucessão geracional deveria acontecer de forma natural e não quando se chega a uma idade que alguém decidiu num escritório”, disse à agência Lusa o bicampeão da Volta a Portugal.

Mais incisivo do que Gustavo Veloso, Rui Sousa criticou a decisão da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), considerando a proposta “completamente descabida” em relação àquilo que é a realidade portuguesa.

“Estamos num país de igualdade e isto é quase uma ditadura. Entendo que sendo nós equipas profissionais, a chamada terceira divisão, não se pode cortar as pernas a um atleta que nos seus 28 anos e daí para a frente possa ter um ano mau. Por exemplo, um atleta que chegue aos 29 anos e faça uma época menos boa dificilmente continuará no pelotão nacional na época a seguir”, analisou.

O ciclista da Rádio Popular-Boavista, o mais veterano do panorama nacional, com 39 anos, acredita que a norma que entrará em vigor em 2016 “vai criar muitos problemas ao pelotão”.

“Eu não tenho dúvida nenhuma que a entrada de ciclistas estrangeiros vai ser muito maior. A acrescer a isso, o grande problema é que, certamente, os salários vão baixar ainda mais. Os jovens vão passar às equipas profissionais a ganhar uma miséria e vai haver uma entrada muito grande a custo zero. Isto deixa de ser ciclismo profissional e passa a ser uma brincadeira”, acusou, defendendo que a FPC, que só olha para os ciclistas que representam equipas estrangeiras, devia preocupar-se sim com os corredores que não receberam salários nos últimos meses.

Sousa confessou à Lusa não entender o propósito dos “sábios da matéria” com “uma regra desproporcionada em relação ao direito do atleta em exercer a sua atividade sem qualquer impedimento”, mas arrisca que terá dois objetivos: “O primeiro é eliminar os mais velhos. O segundo é dar oportunidade aos mais novos. E sim, podem até dar, mas vai haver uma entrada muito maior de ciclistas estrangeiros no pelotão nacional. Esta norma vai disparar o mercado estrangeiro a entrar em Portugal e os salários miseráveis”.

Gustavo Veloso também reconheceu não perceber a intenção da FPC em impor um plantel com 60% de ciclistas sub-28 e recusou-se a acreditar que esta poderia ser uma medida para reduzir o domínio dos ciclistas espanhóis, que nos últimos anos têm reinado em Portugal.

“Os rivais dos ciclistas espanhóis também tinham mais de 28 anos, salvo alguma exceção. Por outro lado, antes os melhores portugueses corriam em Portugal, porque havia equipas fortes, com orçamentos muito maiores, com melhores salários. Hoje, os portugueses estão a correr lá fora e nós, espanhóis, fomos obrigados a emigrar, devido ao desaparecimento de equipas no nosso país”, recordou o galego da W52-Quinta da Lixa, que, apesar dos 35 anos, considera que depois de duas Voltas ganhas, dificilmente seria um dos afetados pela nova norma.

A preocupação dos dois veteranos passa agora pelos colegas com menos credenciais que a nova cláusula pode afetar.

“Hoje em dia, estamos a prazo. Aos 28 anos, estamos a prazo. Ou rendemos ou vamos embora. Render no sentido de ganhar, porque um atleta médio, que até seja um trabalhador importante, passa dos 28 e como as equipas só podem ter três, automaticamente vai estar fora no ano a seguir”, lamentou Rui Sousa.

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