Gustavo Veloso mostrou-se tranquilo diante das suspeitas lançadas pelos dirigentes do Sporting, quando a W52 optou pelo FC Porto, e assumiu que lidar com notícias sobre doping é quase uma rotina para um ciclista.

Em apenas quatro dias, o bicampeão da Volta a Portugal passou de hipotético líder do regresso dos ‘leões’ à estrada a consolidado chefe de fila dos portistas, uma reviravolta que o apanhou no epicentro de uma ‘guerra’, com contornos futebolísticos, entre os dois ‘grandes’ e que agora, à distância de um mês, define como uma situação “um bocado caótica”.

“Do [acordo com o] Sporting, soube pela imprensa, não sabia nada. Depois a equipa pôs-se em contacto com os atletas e esclareceu tudo. Estive sempre tranquilo. Naquela altura também estava a tirar um curso de diretor desportivo, em Madrid, e não tinha muito tempo para andar à procura da informação na internet e nas redes sociais. Não tive muito tempo para ver o impacto real que teve tudo isso aqui em Portugal”, recordou, em declarações à agência Lusa.

Ainda hoje, o ciclista galego, que nos últimos dois anos dominou a seu bel-prazer a prova rainha do calendário velocipédico nacional, não percebe o que aconteceu a seguir, nomeadamente a reação do presidente leonino, Bruno de Carvalho, que justificou a quebra de parceria com a W52 com dúvidas quanto a “procedimentos relacionados com análise e controlo antidoping”.

“Não estou na cabeça dele para perceber o que o levou a fazer aquelas declarações. O que sei é que estou há três anos na equipa e nunca tivemos nenhum problema. Como tenho muitos anos de ciclismo e sei que este tipo de jogo também faz parte, tento não ligar a essas coisas. Penso que terá sido mais um momento de raiva pelas coisas não terem saído bem. Aqui toda a gente está tranquila e a treinar duramente como sempre, a cuidar-se. Não há mais nada a dizer. [Bruno de Carvalho] Também falou e não disse nada. Acabou por deixar só as insinuações no ar”, disse.

Aos 35 anos (faz 36 a 29 de janeiro) e com 15 como profissional, Veloso está acostumado aos olhares suspeitos que recaem sobre a modalidade e que se adensaram desde que o jornal A Bola fez manchete com a existência de cinco casos (e outro suspeito) de anomalias no passaporte biológico de ciclistas, citando fonte da Autoridade Antidopagem de Portugal.

“No ciclismo, já estamos habituados a essas coisas, a conhecer informações pela imprensa antes de chegar aos próprios desportistas. Não sei como é que é possível fazer esse tipo de notícias, quando os atletas envolvidos não estão notificados. Não há nada. Nesse jornal, também saiu que em dezembro esses casos iam ser notificados e hoje continua tudo igual. Noutros anos, ouvi o mesmo e, no final, [a acusação] salda-se em nada. Deixámos de saber quando é verdade e quando não é. Isso obriga-te a olhar para a frente. Se ficas a pensar, deixas de viver. Não se pode estar a ligar ao que dizem que pode acontecer, porque ninguém tem uma bola de cristal”, defendeu.

O líder da W52-FC Porto-Porto Canal confessou-se despreocupado relativamente à reação dos adeptos, tanto às declarações do presidente do Sporting, como às notícias dos jornais.

“Com os anos, está a demonstrar-se que, aconteça o que acontecer no ciclismo – e aconteceram coisas muito graves -, as estradas continuam cheias. Os adeptos podem pensar muita coisa, mas vão ver as corridas, os ciclistas a sofrer. Não penso que seja assim tão grave. Muitas vezes, utilizam-se estas notícias como armas de ataque e contra-ataque entre diferentes partes, que podem ser fora ou dentro do ciclismo. E, realmente, não tenho porque estar preocupado. Já levo muitos anos aqui, já vivi tantas coisas [como o fim da Xacobeo Galicia ou os processos dos amigos Ezequiel Mosquera e Alejandro Marque, ambos ilibados], que já quase fazem parte da normalidade”, resumiu.