O ciclista australiano Matthew Hayman (Orica-GreenEdge) sobreviveu à fuga do dia para se tornar hoje no vencedor surpresa do Paris-Roubaix, impedindo o belga Tom Boonen (Etixx-QuickStep) de estabelecer um novo recorde de vitórias na ‘clássica das clássicas’.

Numa edição imprópria para cardíacos, o veterano da Orica-GreenEdge aproveitou um erro de cálculo do quatro vezes vencedor no ‘Inferno do Norte’, que ficou fechado na parte inferior da pista do velódromo de Roubaix, para festejar a sua primeira vitória numa ‘clássica’ e tornar-se assim apenas o segundo australiano a vencer o Paris-Roubaix em 114 edições, depois de Stuart O’Grady em 2007.

Sem currículo neste tipo de provas, Hayman mostrou que querer é poder e aos 37 anos, apenas cinco semanas após ter partido o rádio, andou cerca de 180 quilómetros dos 257,5 entre Compiègne e Roubaix em fuga para superar ao ‘sprint’, mesmo sobre a linha de meta, o lendário Boonen.

Incrédulo, o australiano, cujo melhor resultado até hoje na ‘clássica das clássicas’ tinha sido um oitavo posto em 2012, demorou a perceber o que tinha acontecido, no final das 05:51.53 horas de competição. “Não consigo acreditar, estou em estado de pura descrença. Parti o meu braço há cinco semanas e perdi todas as corridas até à última semana. Esta é a minha corrida preferida, é uma corrida com a qual sonho ano após ano. Este ano nem me atrevia a sonhar”, confessou, emocionado.

O feito de Hayman é ainda maior tendo em conta que derrotou o rei da Paris-Roubaix, Tom Boonen, que é, a par do compatriota Roger De Vlaeminck, o recordista de triunfos da prova. O belga fez sonhar os seus fãs, ao integrar o grupo de cinco que entrou isolado no velódromo de Roubaix, mas teve de contentar-se com a segunda posição, diante de Ian Stannard (Sky), Sep Vanmarcke (Lotto NL-Jumbo) e Edvald Boasson Hagen (Dimenson Data), quinto a três segundos.

O epílogo da ‘clássica’ francesa começou a desenhar-se ao quilómetro 141, quando uma queda no pelotão principal deixou cortados Peter Sagan (Tinkoff) e Fabian Cancellara (Trek-Segafredo), com um portentoso Tony Martin (Etixx-Quickstep) a aproveitar a ‘benesse’ para decidir, logo ali a corrida, e guiar o seu grupo aos fugitivos, com a recolagem a ser feita a 65 quilómetros do final.

Apanhados de surpresa pelo incrível trabalho do alemão, que hoje fazia a sua estreia no Paris-Roubaix, em prol do seu companheiro belga, o campeão do mundo e o suíço tentaram por tudo recolar ao grupo de Boonen, mas as suas intenções saíram frustradas, sobretudo depois de Cancellara cair a 45 quilómetros da meta, em Mons-en-Pévèles, no décimo dos 27 setores de ‘pavé, curiosamente aquele que, na véspera, tinha apontado como decisivo para o desfecho da corrida.

À medida que os setores de empedrado iam ficando para trás, o grupo da liderança ia perdendo peças até ficar reduzido aos cinco que discutiram a vitória. Apesar dos múltiplos ataques nos quilómetros finais – destaque para uma tentativa de Vanmarcke, que depois de ter vindo de trás para a frente para integrar o grupo de Boonen, chegou a dispor de dez segundos de vantagem na parte final -, o triunfo foi decidido ao ‘sprint’, com Hayman a levar a melhor para ser o terceiro ciclista mais velho a vencer em Roubaix.

Mas não foi apenas para Sagan, 11.º a 02.20 minutos do vencedor, e Cancellara, 40.º a 07.35, que o ‘Inferno do Norte’ foi infernal: quem pior saiu da rainha das ‘clássicas’ foi o português Nelson Oliveira (Movistar), que após andar em fuga nos quilómetros iniciais, caiu à entrada do primeiro setor de ‘pavé’ e ficou agarrado à clavícula esquerda, sendo imediatamente transportado para o hospital.

Também Mário Costa (Lampre-Merida), que ficou cortado aquando da queda do bicampeão nacional de contrarrelógio, desistiu.