Chris Froome (Sky) perdeu o medo às descidas e hoje surpreendeu-se a si e aos adversários para conquistar a oitava etapa da Volta a França em bicicleta e vestir a ‘sua’ camisola amarela.

O mito de que o britânico da Sky não sabe descer caiu por terra, com o vencedor do Tour em 2013 e 2015 a deixar os restantes candidatos atónitos e sem reação, quando, depois de ‘sprintar’ para somar os pontos da última contagem de montanha da jornada, no Peyresourde, demonstrou uma técnica até hoje nunca vista, embalando para a vitória nos 15,5 quilómetros sempre a descer até Bagnères-de-Louchon.

“Não foi planeado. Pensei em tentar na descida, uma vez que as tentativas [de se isolar] na subida não resultaram. Os outros estavam ‘agarrados’ a nós, por isso decidi tentar na descida. Foi porreiro. O ciclismo é divertido, mas talvez tenha gastado demasiadas energias. Amanhã, a etapa é difícil e são apenas uns 20 segundos, mas cada segundo conta”, disse depois de somar o seu sexto triunfo em etapas na ‘Grande Boucle’, o primeiro a descer.

Ainda incrédulo perante a sua proeza, o britânico, nascido no Quénia há 31 anos, esperou, de sorriso aberto nos lábios, pela confirmação daquilo que foi imediatamente percetível assim que os restantes favoritos, com o irlandês Daniel Martin (Etixx-QuickStep) e o espanhol Joaquim Rodríguez (Katusha) no comando, cortaram a meta 13 segundos mais tarde: a camisola amarela era sua.

Tal como aconteceu quando venceu o seu primeiro Tour, Froome chegou ao comando da geral à oitava etapa. Coincidência ou não, o dia de ‘Froomey’ na dificílima ligação pirenaica de 184 quilómetros, entre Pau e Bagnères-de-Louchon, foi quase perfeito – só não foi mais, porque a sua amarela está presa por apenas 16 segundos.

O cardápio de montanhas apresentado no traçado – a partir do quilómetro 67, o pelotão não teve descanso, subindo consecutivamente o Tourmalet, a montanha (de categoria especial) mais vezes escalada na Volta a França (83), Hourquette d'Ancizan (2.ª categoria), Val Louron-Azet (1.ª) e o Peyresourde (1.ª) – convidava a uma fuga e três dos maiores bravos do pelotão assumiram as despesas da corrida na longa primeira subida.

Depois do descalabro da véspera, o nacional Thibaut Pinot (FDJ) fugiu nos quilómetros iniciais da ascensão ao Tourmalet (19 quilómetros com uma pendente média de 7,4 por cento) na companhia do polaco Rafal Majka (Tinkoff), com Tony Martin (Etixx-QuickStep) a juntar-se-lhes pouco depois, num momento em que o camisola amarela Greg Van Avermaet já tinha passado à história, assim como o vencedor do Giro, o italiano Vincenzo Nibali (Astana).

Os três permaneceram na frente até à subida de Val Louron-Azet, sendo alcançados a 43 quilómetros da meta, quando Nelson Oliveira, em grande no trabalho de equipa da Movistar, comandava o já muito reduzido pelotão – foi 55.º na meta, a 20.54 minutos, e subiu ao 102.º lugar da geral (está a 1:07.03 horas).

Os favoritos permaneceram unidos até à subida final e foi Froome, a pouco mais de 17 quilómetros de Bagnères-de-Louchon, a dar o primeiro safanão na tentativa de distanciar-se. Embora não tenha alcançado o seu objetivo primordial, o líder da Sky expôs as debilidades de Alberto Contador (Tinkoff), que, sem equipa para o apoiar, ficou ‘pregado’ e perdeu 1.41 minutos na meta, caindo para o 20.º lugar da geral, a 2.31 do novo líder.

O espanhol não foi o único a sair derrotado da jornada nos Pirenéus – as esperanças francesas Warren Barguil (Giant-Alpecin) e Pierre Rolland (Cannondale) também perderam tempo -, mas foi o nome mais sonante já que todos os outros conseguiram minimizar o impacto do efeito surpresa de Froome e chegaram à meta a 13 segundos do vencedor.

Assim, o campeão em título lidera a classificação geral com 16 segundos de vantagem sobre o compatriota Adam Yates (Orica-BikeExchange), segundo, e o espanhol Joaquim Rodríguez, terceiro.

Completamente fora das contas da geral está Rui Costa (Lampre-Merida), que voltou a ter um dia para esquecer, perdendo 25.54 minutos e descendo ao 72.º posto, a 48.30 de Froome.

No domingo, véspera do dia de descanso, o pelotão despede-se dos Pirenéus, com a nona etapa, uma ligação de 184, 5 quilómetros entre Vielha val d’Aran (Espanha) e Andorra Arcalis, a oferecer cinco contagens de montanha, a última das quais, de categoria especial, a coincidir com a meta.