O Sabugal ganhou hoje um protagonismo inesperado na Volta a Portugal em bicicleta como palco da desistência do azarado Ricardo Mestre, vencedor de 2011, e como local da estreia vitoriosa de Kai Reus (United Healthcare) em território luso.

O quilómetro 147 da sétima etapa ficará marcado na memória da 74.ª edição da Volta a Portugal. Num momento perturbador para a caravana, Ricardo Mestre, vencedor em título, Garikoitz Bravo, dono da camisola da juventude em 2011, e Fran Clavijo, o bravo resistente, saíram em frente numa curva e precipitaram-se ribanceira abaixo.

A imagem dos ciclistas imóveis assustou e as piores suspeitas confirmaram-se: era o fim da linha para o vencedor da Volta2011, o grande azarado desta edição, com quatro quedas no espaço de cinco etapas, que foi transportado para o Hospital da Covilhã.

«Ainda tenho os berros do Ricardo na cabeça», disse um desolado David Blanco que, mal a etapa terminou, foi entregar o seu amuleto pessoal ao presidente do Tavira, Luís Constantino, para o fazer chegar ao amigo e antigo companheiro, que «não merece» tamanho azar.
Emocionado, o corredor da Efapel-Glassdrive contou que também esteve perto de cair – «faltaram-me dois centímetros, travei e a bicicleta guinou, foi a minha sorte» -, e que a queda foi motivada por um saco de plástico que voou na direção do pelotão.

«Houve corredores que se assustaram, travaram e como iam muito depressa... Não é que a curva fosse perigosa, são coisas que acontecem», referiu o quádruplo vencedor da prova.

Lá acima, na berma, ficava com a clavícula direita partida o décimo classificado, Edgar Pinto, “o braço direito” de Hugo Sabido e o companheiro da LA-Antarte José Mendes, que conseguiu, tal como Amaro Antunes, sair só com uns arranhões do encontro imediato com o passeio.

«Vínhamos na frente quando entraram os sul-africanos. Eles vinham muito depressa e não viram bem a curva e bastou um atrapalhar-se um para todos caírem», descreveu Mendes, que, quando se levantou, ouviu «muitos corredores aos berros». «Foi arrepiante», garantiu.

O abandono de Mestre tirou protagonismo à etapa em si, corrida entre Gouveia e o Sabugal, num total de 185,3 quilómetros de sobe e desce.

Com as forças renovadas depois de um merecido dia de descanso, os “bravos” do pelotão não quiseram esperar muito para se lançar à aventura e, ao quilómetro oito, já havia 14 homens em fuga.

Aos “portugueses” Samuel Caldeira e Tomas Metcalfe (Carmim-Prio), Célio Sousa (Onda) e Micael Isidoro (Seleção Portuguesa) juntaram-se Fabrizio Ferrari e Alexander Riabkin (Caja Rural), Carlos Barbero (ORBEA Continental), David Belda (Burgos BH-Castilla e Leon), Dalivier Ospina (Colombia - Coldeportes), Jean Marino (Saur Sojasun), Kai Reus e Davide Frattini (UnitedHealthcare), Dennis Van Niekerk (MTN Qhubeka) e Herman Fouche (Team Bonitas).

Falhou a Efapel-Glassdrive, que não colocou nenhum ciclista na fuga e foi obrigada a dar uma mão à LA-Antarte na perseguição. Mas de nada valeu, porque a queda gravíssima que afastou alguns dos melhores corredores desta edição, atordoou o pelotão e entregou a discussão da etapa aos fugitivos.

E aí, Kai Reus, o ciclista holandês que tinha marcado a vermelho a sétima etapa no livro técnico da Volta a Portugal, comprovou que a tirada era mesmo a seu jeito e esperou pelo momento certo para atacar o sprint e roubar a vitória a Célio Sousa e Jean Marino, seus companheiros na meta.

«Pensei: ‘é o meu dia’. E consegui», celebrou o holandês de 27 anos, de personalidade exuberante e um “habitué” das estradas lusas na Volta ao Algarve, que recordou o sucesso da United Healthcare nesta edição da prova rainha do ciclismo português: três etapas e três dias de amarelo.

Sem Mestre no pelotão, as estratégias definidas para a oitava etapa, que termina esta sexta-feira na Torre, devem ser redefinidas. Mas uma coisa é certa: Hugo Sabido não vai mexer a corrida pela Serra da Estrela acima.

«Tenho só de me defender», assegurou o dono da amarela.