O sul-africano Reinardt Van Rensburg começou a 74.ª Volta a Portugal em bicicleta como começou, vencendo a décima etapa, a da consagração de David Blanco, o novo recordista de amarelas da prova portuguesa.

Cortado “o risco” em Lisboa, emocionado e em lágrimas, o espanhol, agora oficialmente pentavencedor da Volta a Portugal (2006, 2008, 2009, 2010 e 2012), não foi capaz de exprimir o que lhe ia na alma. Afinal, não é todos os dias que alguém vê o seu maior sonho tornar-se realidade.

Corredor mais importante da última década em território luso, Blanco, de 37 anos, superou uma experiência internacional desastrosa na Geox, devido a uma bactéria no estômago, e voltou ao sítio onde mais foi feliz – a Volta a Portugal – para inscrever o seu nome na história ao superar o recorde que partilhava com o português Marco Chagas.

«A [vitória] mais querida é esta. Sinto muitas coisas. Lembro-me de alguns amigos que se foram, de pessoas que estão a passar muito mal, de todos os que me apoiam. É muito bonito fazer o que gostamos», confessou o “cabeça dura” que este ano descobriu como acreditar em si.

Felicidade, para Blanco, significa bicicleta e, por isso, sempre disse que não podia abandonar a carreira sem voltar a tentar conquistar o seu Tour pessoal.

«Voltei, porque precisava... Não sei. Era algo que a alma e o coração pediam para tentar», resumiu.

Se a etapa era de consagração para uns, também era de luta para outros. Sérgio Ribeiro foi o camisola da regularidade nas últimas duas edições e não estava disposto a perdê-la para o forasteiro Reinardt van Rensburg sem dar tudo o que tinha.

Liberto do trabalho de proteção do líder, “Serginho”, que partiu para a décima etapa com uma desvantagem de 17 pontos, atacou a primeira meta volante em busca de preciosos bónus, mas foi o camisola vermelha o primeiro a passar para consolidar ainda mais a sua liderança.

A estratégia do ciclista da Efapel-Glassdrive viu-se comprometida pelo ataque de Márcio Barbosa (LA-Antarte) e Andres Vigil (Andalucia), um duo que se distanciou do pelotão ao quilómetro 55 e que, três quilómetros depois, teve a companhia de Duber Armando Quintero (Colombia-Coldeportes), Marc de Maar (UnitedHealthcare) e Jacques Van Rensburg (MTN Qhubeka).

Sem grande margem de manobra, os fugitivos nunca tiveram mais de dois minutos para sonhar com uma hipotética vitória de etapa, mais do que entregue aos sprinters, desejosos de sair da 74.ª edição da prova com uma presença no pódio final.

Uma das mais combativas desta edição, a Caja Rural tomou conta da perseguição para levar Francisco Lasca, vencedor da segunda etapa, em boas condições até à meta, onde os 122 sobreviventes - Bradley White (United Healthcare) caiu e foi forçado a desistir – passaram cinco vezes antes da decisão final.

Na última volta, assinalada pelo toque de sino, liderava a United Healthcare, acostumada a vencer na 74.ª Volta a Portugal – foi a equipa mais vitoriosa, com três etapas, as mesmas que Reinardt van Rensburg -, mas ninguém nesta caravana tem pernas para a ponta final do sul-africano de 23 anos, que saiu da corrida como um dos grandes vencedores.

O sonho do homem da MTN Qhubeka de ser o primeiro campeão mundial africano deixou de parecer uma miragem, assim como um futuro bem-sucedido na Europa. Em Portugal, Van Rensburg é já sinónimo de um grande sprinter que, quem sabe, no futuro, juntará a camisola vermelha dos pontos portuguesa à verde da Volta a França.