David Blanco trocou esta terça-feira definitivamente a pele de recordista de vitórias da Volta a Portugal em bicicleta pela de cronista diário, um desafio que começa com a certeza de estar a meter-se onde não é chamado.

«Vou tentar escrever, agora o que sair dali... Antes de começar peço desculpa a todos os jornalistas por me estar a meter onde não sou chamado. Mas penso que é uma boa ideia, falar da Volta da perspetiva de alguém que conhece mais o que se passa dentro do pelotão. E não só. Vou falar também de outras coisas: do ciclismo, do que acontece quando se deixa a bicicleta», disse bem-humorado à agência Lusa.

De sorriso rasgado, o vencedor em título da Volta a Portugal, agora cronista do jornal O Jogo, confessou ter «uma certa facilidade para escrever» – «não me custa, sai-me» -, mas reconheceu que terá de o fazer em espanhol e não em “portunhol”.

Afastado do ciclismo desde que ganhou a sua quinta amarela na principal prova velocipédica nacional, o galego mais português do pelotão reconheceu que nesta edição estará «mais descansado», sem o stress que tinha na bicicleta, mas com a mesma alegria por estar no seu “Tour” particular.

«Estou muito contente. Ao princípio parecia que a coisa estava complicada, se calhar foi culpa minha, porque o enfoque não foi o correto. E depois, ao falar com o jornal, aconteceu. Achei que esta forma de ver a Volta era mais viável e podia ajudar mais. Espero que tudo corra bem», contou.

Com o recorde de títulos no bolso e com a alma na escrita, Blanco admitiu que podia ter corrido mais uma ou duas temporadas, mas que «há que tomar decisões» e este foi o momento certo para deixar o ciclismo e emigrar para a Guiné Equatorial, onde recuperou a experiência como corretor bolsista.

Agora, sem 1607,2 quilómetros para pedalar entre Lisboa e Viseu, o espanhol deixa um desabafo: «A minha vida agora é mais aborrecida, mais tranquila. Não tenho nenhum stress por nada».