Sergey Shilov venceu hoje a oitava etapa da 76.ª Volta a Portugal, diante de três desiludidos ciclistas portugueses, mas os festejos esbarraram nos problemas de comunicação, com o russo a não conseguir expressar a sua felicidade.

Sem ser possível saber o que sentiu Shilov, dada a falta de um tradutor de russo (o ciclista da Lokosphinx não fala inglês, francês, espanhol eitaliano, os quatro idiomas chave na modalidade), as sensações do final da oitava etapa foram relatadas pelos grandes derrotados desta edição, os "sprinters" portugueses.

"Até hoje, as chegadas têm sido uma lotaria, porque ninguém assume o lançamento do `sprint´. Hoje, finalmente, foi mais organizado e até vinha bem lançado, mas acabei por não conseguir", lamentou Samuel Caldeira, o segundo classificado em Castelo Branco, que até viveu "o luxo" de ser colocado na reta da meta pelo camisola amarela e seu colega na OFM-Quinta da Lixa Gustavo Veloso.

Já Filipe Cardoso (Efapel-Glassdrive), quarto com as mesmas 04:48.01 horas do vencedor, um lugar atrás de Manuel Cardoso (Banco Bic-Carmim), que nem quis falar, admitiu que a saída em velocidade de Shilov surpreendeu os portugueses.

"Os homens que chegaram na frente são mais pesados e hoje, aqui no paralelo, isso fez a diferença", assegurou.

Depois de um dia duríssimo, os ciclistas apresentaram-se no Sabugal bem mais descontraídos e risonhos, preparados para a oitava etapa, a mais longa (194 quilómetros) e a mais quente desta edição e a última propícia a uma fuga bem sucedida.

Conscientes disso, Alberto Galego (Rádio Popular-Onda), Raul de Mateos (Louletano-Dunas Douradas), Fernando Orjuela (4-72-Colombia), Jose Ragonessi (Team Ecuador) e Carlos Ribeiro (Seleção Portuguesa) saíram do pelotão aos 23 quilómetros e pedalaram em quinteto quase uma centena de quilómetros, tendo uma margem máxima, autorizada pelo Banco Bic-Carmim e pela Caja Rural (até se viu Luis Léon Sánchez a puxar), de quatro minutos.

Entre ataques e contra-ataques, Galego, De Mateos e Orjuela ficaram isolados na frente, até que o colombiano, aproveitando as sucessivas discussões entre os dois espanhóis, "sprintou" a 49 quilómetros para isolar-se e rapidamente conquistar uma vantagem inalcançável pelo duo.

A 26 quilómetros para a meta e com o ciclista da 4-72-Colombia com 42 segundos para o pelotão, Sérgio Sousa tentou emendar nova Volta (quase) desastrosa da Efapel-Glassdrive, saltando do pelotão.

"Eu gostava de dar uma vitória à equipa. Ontem as coisas não saíram como queríamos e eu não consegui ajudar. Pensava que estava bem e afinal… hoje quis retribuir", explicou Sousa, apanhado, já em solitário, a quatro quilómetros da meta.

Com a corrida lançada, Edgar Pinto (LA-Antarte), o homem de todos os azares, furou (só não perdeu tempo, porque estava dentro dos três quilómetros que salvam os ciclistas em caso de acidente), e a Caja Rural tentou levar o camisola vermelha Davide Vigano ao triunfo, sem resultado.

Foi Shilov, que conquistou a segunda vitória da carreira aos 26 anos, quem venceu, mas, no pós-cerimónia do pódio, já todas as conversas gravitavam em redor do contrarrelógio de sábado. Os 28,9 quilómetros entre Oleiros e a Sertã vão ditar o vencedor final da 76.ª Volta a Portugal.

À partida, o favorito é Gustavo Veloso, líder com 28 segundos de avanço sobre Rui Sousa (Rádio Popular-Onda), que há um ano perdeu a amarela e o segundo lugar para os homens da OFM-Quinta da Lixa precisamente na luta contra o cronómetro.