A pergunta pode não ser óbvia, mas, com mais de 600 “bidons” de água consumidos e atirados para a estrada por dia, a Lusa foi tentar saber se os ciclistas da Volta a Portugal têm consciência ecológica.

Quem não gosta ou não costuma acompanhar o ciclismo, pode ter sintonizado, por acaso, a emissão televisiva nos últimos quilómetros da subida à Torre e ter-se deparado com uma dúvida: o que acontece aos “bidons” atirados pelos ciclistas durante as etapas?

Têm a palavra os próprios. “Eu, por acaso, tenho o cuidado de atirar para zonas onde estão pessoas. Tenho sempre essa preocupação, até vou espaços relativamente longos com `bidons´ vazios para não atirar para descampados”, garantiu à Agência Lusa Rui Sousa.

O vencedor no alto da Torre e segundo classificado da geral individual acredita que os recipientes são “praticamente” todos aproveitados pelo público que se espalha ao longo do percurso, prognosticando que “90 por cento” destes serão reutilizados pelos fãs.

“Vejo como as pessoas correm para apanhar, quase se pegam”, disse, divertido, o veterano da rádio Popular-Onda.

Se Sousa não escolhe a quem atira os seus despojos de corrida, o mesmo não se pode dizer de Mário Costa. Talvez seja a futura paternidade a falar mais alto, mas, em conversa com a Lusa, o irmão do campeão do Mundo, Rui Costa, assegurou que procura pelos mais pequenos entre os espetadores.

“Normalmente, tenho cuidado para não atirar quando não há ninguém na estrada. Tento ver onde estão as crianças, porque temos que estimular os mais pequenos a gostarem do ciclismo”, confessou.

Para o sorridente Mário, a lógica é simples: “Já que vamos mandar fora os `bidons´, que os deixemos para as pessoas".

No entanto, com grande pena do corredor da OFM-Quinta da Lixa, nem sempre é viável “premiar” os adeptos.

“Quando os nossos colegas vêm carregados de `bidons´, nós temos de despachar os que temos, não podemos ficar à espera do sítio ideal”, explicou.

A estrear-se na Volta a Portugal, David Rodrigues partilha as preocupações ecológicas dos mais experientes, chegando mesmo a disparar um genuíno “boa pergunta”, quando questionado sobre o que faz com os recipientes de que já não necessita.

“Há pouco estava aqui um senhor a pedir para guardarmos três `bidons´ para ele”, relatou o ciclista da seleção portuguesa à Lusa, prosseguindo rapidamente: “Naturalmente, deitamos muitos fora, mas temos o cuidado de tentar que fiquem na berma da estrada para as pessoas conseguirem apanhá-los”.

Aos 23 anos, o segundo da classificação da juventude percebe que aquilo que para si é mais um instrumento de trabalho, para o público em geral “é uma recordação, uma lembrança que as pessoas levam da Volta a Portugal”.

“Houve uma polémica há uns anos com os ambientalistas, que queriam fazer uma petição para usarmos `bidons´ biodegradáveis. Não era má ideia, mas passa, sobretudo, por nós. Cada vez temos mais consciência. Os diretores desportivos dão-nos essa indicação, os comissários também alertam”, contou o ciclista.

Com uma média de um `bidon´ consumido por hora por ciclista, um número que aumenta exponencialmente com o calor, David Rodrigues acredita que, hoje em dia, todos os elementos do pelotão, dentro e fora da corrida, têm consciência ecológica.