Um grupo de estudantes africanos do Instituto Politécnico de Bragança, na sua maioria cabo-verdianos, decidiu constituir uma equipa de futebol e “tomou de assalto” a liderança do campeonato distrital, somando vitórias dentro e fora do campo.

A inesperada equipa sensação chama adeptos aos jogos e tem surpreendido os adversários com cinco vitórias em seis jornadas e o primeiro lugar da tabela consolidado, neste fim-de-semana, com três golos marcados ao Alfandeguense, na divisão de honra da associação de futebol de Bragança.

A presença no campeonato foi ideia da Associação de Estudantes Africanos do Instituto Politécnico de Bragança (AEAIPB), que há mais de uma década promove atividades para a integração dos estudantes da lusofonia que frequentam o Ensino Superior na cidade transmontana.

A comunidade africana é a que maior peso tem entre os cerca de mil estudantes estrangeiros do IPB e destaca-se agora na equipa de futebol, constituída maioritariamente por cabo-verdianos, um são-tomense e quatro “brancos”.

Óscar Monteiro, jogador e dirigente desportivo da associação, foi o impulsionador do projeto. Escolheu Bragança para estudar, mas simultaneamente jogava numa equipa do distrital.

Foi chamando outros colegas para o futebol até que pensaram: «nós estamos todos aqui porque é que não juntamos todos e fazemos uma equipa de futebol e jogamos todos aqui numa equipa do IPB?», como contou à agência Lusa.

Quando apresentou o projeto, poucos acreditaram nele, até que levou a ideia ao presidente do IPB.

«Quando o professor Sobrinho entrou no jogo, ganhámos», enfatizou.

O politécnico disponibilizou o apoio logístico, como o campo desportivo onde treinam, angariaram patrocínios de empresas da cidade e têm ainda a parceria da autarquia local e da Embaixada de Cabo Verde em Lisboa.

Jogam futebol para não estarem em casa, para superarem melhor o frio de Bragança, para estarem unidos. Não recebem nada, segundo garantiram à Lusa.

A equipa foi batizada com o nome da associação, “AEAIPB”, e embora o objetivo inicial fosse competir para integrar socialmente, «voos mais altos», como uma eventual subida de divisão, já fazem parte das perspetivas destes jovens.

Um dos motivos de satisfação do presidente da associação e também jogador, Stenio Pereira, é a assistência aos jogos.

«Temos tido uma média muito boa de adeptos em casa e não só pessoal nosso, africano, temos tido também pessoal daqui de Bragança a torcer por nós, a vibrar connosco e isso deixa-nos muito contentes», afirmou.

O treinador Vítor Reis chama-lhes «as gazelas africanas» e elogia «o trabalho, a vontade e a humildade» destes jovens, a que atribui os bons resultados.

Habituado a treinar outras equipas deste campeonato, ficou incrédulo quando foi abordado pelos estudantes africanos para abraçar o projeto.

As coisas estão a correr bem e o treinador destaca, sobretudo o “fair play” destes jogadores que, acredita, «já devem ter olheiros neles».

Eldon Lopes é dos mais velhos, com 28 anos, e por isso já não espera fazer carreira no futebol, mas está convencido de que a experiência pode enriquecer o currículo da licenciatura em Turismo e mestrado em gestão de Empresas.

Pensa regressar a Cabo Verde, abrir a sua própria empresa e fazer algo idêntico a este projeto desportivo no seu país.

Em Bragança, a associação de estudantes africanos promove outras atividades culturais, recreativas e desportivas, nomeadamente com uma equipa de futsal feminina e um grupo de dança, além de eventos gastronómicos para dar a provar pratos da lusofonia a Bragança.