Lolote gosta de brincar, mas dentro de campo leva tudo a sério. Aos 41 anos, mostra autoridade nos relvados cabo-verdianos, sente-se um homem realizado no futebol, mas há um sonho que vai morrer com ele: jogar pelo Benfica.
José Pedro Tavares, mais conhecido no mundo do futebol por Lolote, nasceu em Ribeira da Barca, concelho de Santa Catarina (interior da ilha de Santiago), no dia 18 de outubro de 1974, quase 10 meses antes da independência do país, conseguida de Portugal a 05 de julho de 1975.
Aos cinco anos emigrou para Portugal, e na zona da Pontinha (Odivelas) começou a dar os primeiros toques na bola "por vício, não tinha nada pensado em ser futebolista".
Aos 16 anos, regressou a Cabo Verde e e começou a levar o futebol "um bocadinho mais a sério", mas já sabia que "não ia ganhar muito" porque o futebol em Cabo Verde ainda é amador. "Mas acho que tomei a decisão certa (de seguir carreira no futebol)", disse à Lusa.
Com 19 anos, começou a jogar ao mais alto nível na equipa do Celtic. Passou depois por quase metade das equipas da Praia: Varanda, Académica, Sporting, onde foi tetra-campeão nacional e conquistou nove títulos regionais, e Travadores, onde também foi campeão regional.
Em 1997, teve uma curta passagem por Portugal para jogar no Alcaninense, equipa da terceira divisão, e em 2000 fez parte da seleção cabo-verdiana que conquistou a Taça Amílcar Cabral realizada na cidade da Praia. Ganhou ainda o torneio Inter-ilhas por três vezes com a seleção de Santiago, numa carreira recheada de outros títulos coletivos e individuais.
Regressou esta época "à casa" e é o capitão do Celtic aos 41 anos, uma longevidade invejável que faz dele o jogador mais velho em atividade no regional de futebol de Santiago Sul.
Questionado pela Lusa sobre os segredos para jogar depois dos 40 anos, Lolote respondeu com a mesma rapidez e frontalidade com que vai a cada lance dentro do campo. "Não há muito segredo, é o crer, vontade, muito respeito para com a própria pessoa e levar tudo a sério".
"Normalmente eu levo tudo que eu faço a sério, não brinco. Nos treinos e nos jogos sou a mesma pessoa, dedico muito a jogar futebol porque é das coisas que mais amo e gosto de fazer", respondeu, dizendo que tem algum cuidado com a alimentação apenas no início de cada época.
Lolote tinha traçado como meta jogar até aos 36/37 anos, mas "o bichinho não morreu". "Comecei outra vez, dizia sempre ?este é o último ano', era sempre o último ano e já estou nos 41 anos. Mas não sei, se calhar esta pode ser a última época", projetou o defesa central, um dos mais temidos e respeitados nos relvados cabo-verdianos.
"Para o que resta desta época sinto-me bem física e psicologicamente. Para a próxima época não sei se vou jogar, como é que vou estar fisicamente, só mesmo na próxima época", atirou Lolote, a menos de sete meses de completar 42 anos.
No futuro, o defesa do Celtic tem uma única certeza: quer ser treinador de futebol. Para já, disse que não tem pressa porque quer dedicar-se aos negócios, sendo proprietário de duas lojas num centro comercial na cidade da Praia que lhe ocupa também boa parte do seu tempo.
Lolote é um jogador caracterizado pela sua forte presença física, rapidez, é forte na antecipação e nas bolas aéreas, mas também pela agressividade e raça que mostra a cada lance. Mas recusa qualquer maldade para com os adversários.
"É a minha maneira de ser e não vou mudar porque nunca magoei e lesionei ninguém gravemente e peço a Deus que isso não aconteça", afirmou o defesa, cuja maneira de jogar o faz ser amado por uns e odiado por outros, sendo muitas vezes vaiado nos estádios cabo-verdianos.
"A minha maneira de jogar é assim mesmo: eu sou viril, sou agressivo, mas não com agressividade para lesionar uma pessoa. Isso nunca. Tento disputar cada bola como se fosse o último lance porque é a minha maneira de ser", completou.
Mas fora de campo é conhecido por ser uma pessoa extrovertida, amiga, alegre, atenciosa e é considerado um grande animador. "Dentro do campo tenho outra mentalidade, estou ali para ganhar, para vencer, não estou ali para brincar nem para perder", explicou.
Nos mais de 20 anos a jogar a bola ao mais alto nível, Lolote realizou boa parte dos seus sonhos, sendo o maior deles ter representado a seleção de Cabo Verde. Mas há um que vai morrer com ele: jogar pelo Benfica, clube de que é sócio.
"É um sonho desde os 15 anos. Sou benfiquista ferrenho. É daqueles sonhos que vou morrer com ele, é a vida, o mundo não acaba", afirmou o jogador, também considerado um exemplo para os mais novos, a quem pede para "nunca deixarem de correr atrás dos sonhos".
Quanto ao futebol cabo-verdiano, Lolote destacou a proliferação de campos relvados em todas as ilhas para a sua evolução nos últimos anos, tendo a seleção chegado em março à liderança do ranking africano, mas considerou que ainda "falta muito", sobretudo na formação.
Lolote, os segredos de jogar depois dos 40 anos e o eterno sonho de representar o Benfica
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Aos cinco anos emigrou para Portugal, e na zona da Pontinha (Odivelas) começou a dar os primeiros toques na bola "por vício, não tinha nada pensado em ser futebolista".
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