Sandra Bastos até já foi campeã nacional, mas é na arbitragem que está a fazer história, ao ter-se tornado, em janeiro, a primeira mulher na história do futebol português a apitar um jogo do Campeonato Nacional de Seniores.

Um marco que junta a outro feito digno de registo: depois de mais de 200 jogos internacionais, subiu, este ano, ao grupo de elite da UEFA, tendo, também nesta conquista, sido pioneira, no que à arbitragem feminina diz respeito.

"Já era uma coisa pela qual andava a lutar há muito tempo. Mostrámos que o trabalho do dia-a-dia vale a pena e que nós mulheres também podemos ter sucesso lá fora", contou, em entrevista à agência Lusa.

Aliás, 2015 ainda há pouco começou e já tem tudo para ser um "ano gordo" na carreira desta árbitra de 35 anos, ou não tivesse sido já chamada para apitar um jogo do terceiro escalão nacional, um feito inédito entre as árbitras portuguesas.

Aconteceu a 18 de janeiro, num encontro que colocou frente a frente o Mirandela e o Fafe, na 18.ª e derradeira jornada da série A da primeira fase do Campeonato Nacional de Seniores.

"Ninguém complicou, nem equipas técnicas, nem adeptos. Todos os intervenientes nos aceitaram com muita simpatia e sem dúvida que foi uma tarde desportiva que nunca vou esquecer", afirmou a árbitra da Associação de Futebol de Aveiro.

Uma experiência que, assinala, só foi possível porque, em 2012, o regulamento que impedia as árbitras nacionais de estarem no quadro masculino foi alterado.

Por trás dos louros que tem vindo a colher, Sandra Bastos esconde uma dedicação acima da média.

"Se não se consegue treinar às 5 da tarde, treina-se às 6 da manhã. Se não se consegue treinar às 6 da manhã, treina-se às 10 da noite", conta, explicando que, apesar de ser sócia gerente numa empresa de Santa Maria da Feira, treina todos os dias.

Por isso, Paulo Costa, antigo árbitro internacional e dirigente de Conselho de Arbitragem que se encarrega da gestão da arbitragem feminina, não hesita em afirmar que Sandra Bastos "faz do seu trabalho diário e da dedicação as suas mais-valias".

"É uma apaixonada pela arbitragem e o facto de ter sido promovida ao grupo de elite premeia-a a ela e à arbitragem feminina portuguesa", defende, admitindo tratar-se de um exemplo de "inegável qualidade".

Mas foi a correr atrás da bola que Sandra Bastos começou no futebol, recordando ainda o título conquistado em 1995/1996, pelo Lobão, uma equipa de Santa Maria da Feira.

A arbitragem chegaria apenas quando decidiu voltar à escola para subir notas e teve conhecimento de um curso que iria decorrer.

Admite que a transição foi "algo difícil", ou não estivesse habituada "a dar um bocado de porrada e a reclamar com os árbitros", mas isso não a impediu de fazer um percurso ascendente: em 2003/2004, seria indicada para o quadro feminino e pouco depois para a UEFA.

Hoje, conta já mais de 200 jogos internacionais, entre os quais os quartos de final da Liga dos Campeões feminina, em novembro, a final do europeu de sub-19 em Itália (2011) e a chamada aos Jogos Olímpicos de 2010, enquanto quarta árbitra.

Quando questionada sobre se a médio prazo será possível ver uma mulher a apitar um jogo das competições profissionais, responde assim: "Porque não? Se na Alemanha, no Brasil, na Suécia temos mulheres a arbitrar, porque não cá? Passo a passo, as coisas irão chegar."

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