Numa época de muitas dificuldades financeiras e de liderança, em que o espectro da despromoção rondou quase sempre, a equipa do Recreativo da Caála conseguiu, de forma inédita, permanecer na fina flor do futebol nacional.

O único representante da província do Huambo no Girabola (designação do campeonato nacional de futebol da I divisão) contrariou todos os prognósticos que lhe eram feitos no final da I volta, confirmando também que o futebol continua ser, ainda, a modalidade desportiva mais fértil em surpresas.

Embora não tenha cumprido com o objectivo inicial, que passava por terminar o campeonato entre os cinco melhores colocados, os caalenses fizeram história, já que no final dos primeiros 15 jogos ninguém de bom senso acreditava que o conjunto evitaria a descida de divisão.

Apesar de todos os constrangimentos que a equipa viveu este ano, o feito da turma do Huambo, além de ter elevado mais a empatia que o público local nutre pelo futebol, serviu também para provar que a união e a responsabilidade são de extrema importância no alcance do sucesso.

Ao terminar a I volta na última posição (16ª), com 12 pontos somados em 45 possíveis, o Recreativo da Caála fez a sua pior campanha de sempre, desde que, em 2009, ascendeu ao campeonato nacional de futebol da I divisão.

Nos primeiros 15 jogos disputados, o conjunto obteve uma vitória, depois de 11 jornadas, nove empates, seis dos quais consecutivos, e perdeu em cinco ocasiões. Comparando com épocas anteriores, foi a primeira vez que o Caála terminou a I volta na condição de "lanterna vermelha" e que menos pontos conquistou.

A título de exemplo, em 2009 terminou a I volta com 13 pontos, em 9º lugar, em 2010 terminou com 25, no 3º lugar, em 2011 com 18, no 13º, em 2012 com 18, no 9º lugar, em 2013 com 21, no 7º lugar e em 2014 terminou a I volta com 17 pontos no 12º lugar da tabela.

Contrariamente ao que tem sido prática, esta época começou a ser preparada antes mesmo do campeonato passado chegar ao fim, com a contratação de uma nova equipa técnica, liderada pelo português Bernardino Pedroto, o que acalentou ainda mais as hipóteses de uma boa participação.

Com o novo treinador, coincidentemente o que mais títulos conquistou no futebol nacional, chegou também uma legião de jogadores escolhidos por ele, entre nacionais e estrangeiros, comprometidos com a missão de colocar o grémio na elite do Girabola, com destaque para os ex-internacionais Osório, Nuno e Love Cabungula, os portugueses Fábio e João Manuel.

Administrativa e financeiramente tudo fazia crer, a julgar pelos recorrentes pronunciamentos da direcção, que as condições objectivas, e até mesmo subjectivas, estavam reunidas, aguardando-se apenas pelo arranque da prova.

Todavia, quando menos se esperava, surgiu o primeiro contratempo. A deslocação ao Brasil, para o estágio pré-competitivo, há muito anunciado, foi cancelada, por razões que a direcção do clube alegou não serem de sua responsabilidade.

Desde então, começaram a surgir rumores e sinais de crise no clube, que vieram consumar-se logo após a jornada inaugural, quando Bernardino Pedroto decidiu rescindir o seu vínculo contratual, que expiraria somente em finais de 2017.

Não querendo dar azo a suposições, a direcção do clube negou que a saída do treinador tenha sido motivada por falta de organização ou condições, afirmando apenas que se deveu a questões pessoais da parte do treinador.

Contudo, as jornadas subsequentes, já sob comando de Arsénio Túbia, revelaram uma equipa sem motivação e com falta de atitude e determinação para vencer jogos, incluindo com adversários teoricamente menos capacitados.

Foram necessários mais cinco jogos, que terminaram em igual número de empates, para a direcção despedir a equipa técnica e assumir, publicamente, que estava a enfrentar uma crise financeira que se arrasta desde o ano passado.

Para minorar os efeitos negativos resultantes da falta de dinheiro, sendo a mais grave o abandono da competição, a direcção viu-se obrigada a fazer um reajuste nas despesas, incluindo nos salários, prémios de jogos e outras "benesses" a que os jogadores tinham direito.

A decisão teve um efeito avassalador e as reações não demoraram a surgir, com a saída de 13 jogadores, cinco dos quais titulares indiscutíveis, que se recusaram baixar o ordenado, tal como exigido pela direcção, incapaz de manter o orçamento estabelecido no princípio da época.

Para agudizar ainda mais a crise do conjunto, o presidente Horácio Mosquito, no cargo desde 2008, demitiu-se, na sequência das denúncias que o mesmo fez sobre corrupção na competição.

A sua demissão, no final da I volta, provocou dissolução imediata de toda a direcção, dando lugar a uma comissão de gestão, todavia a dúvida quanto à permanência da equipa na prova ainda continuava.

O começo da II volta não foi dos melhores desportivamente, apesar de administrativa e financeiramente terem sido ultrapassados os problemas. Nas duas primeiras jornadas o conjunto empatou e não conseguiu sair da última posição, aumentando ainda mais as suspeitas sobre a descida de divisão.

Porém, na 3ª jornada a equipa começou a transfigurar-se, graças à crença, ambição, determinação, garra e espírito de sacrifício, alternando vitórias seguidas e empates, numa clara luta pela fuga à despromoção, que veio confirmar-se três jornadas antes do fim do campeonato.

O Recreativo da Caála terminou na 11ª posição, com 36 pontos, menos 24 que o campeão, Recreativo do Libolo. Em termos de pontos somados na II volta, foi a 4ª melhor equipa, 24 pontos somados, superada apenas pelo 1º de Agosto, com 34 pontos, Recreativo do Libolo (30) e Benfica de Luanda (27).

Presente no Girabola desde 2009, o Recreativo da Caála, fundado a 24 de Junho de 1944, teve como melhor feito o 2º lugar alcançado em 2010, ao terminar com 55 pontos, os mesmos do campeão da época, o Interclube.

No ano da sua estreia quedou-se na 9ª posição, com 33 pontos, em 2010 ficou em 2º, com 55, em 2011 quedou-se no 5º lugar, com 48, em 2012 na 10ª posição, com 35 pontos, mais um que em 2013, na 11ª posição, e em 2014 terminou na 7ª posição, com 40 pontos somados.