O Japão é um país com uma cultura muito própria, que tem uma visão mais tradicional em relação aos valores humanos. O respeito pelo outro e o conhecimento são dois dos grandes pilares da cultura japonesa, que tem proporcionado grandes exemplos de civismo nas grandes competições, como as imagens de adeptos a limpar as bancadas no Mundial 2018 ou o estado impecável em que os jogadores deixam os balneários antes de sair.

Estes "pormenores" pouco influenciam o futebol dentro das quatro linhas, mas são reveladores de uma mentalidade diferente, que tem impacto direto na formação do atleta que depois chega aos principais palcos do futebol mundial, como são os casos de Wataru Endo (Liverpool), Kaoru Mitoma (Brighton), Takehiro Tomiyasu (Arsenal) ou Hidemasa Morita (Sporting).

Estes são exemplos de jogadores que conseguiram furar a "barreira europeia" e chegar às melhores equipas, o que parece ser, cada vez mais, uma constante entre atletas japoneses. Embora haja outros casos, como Takefusa Kubo (Real Sociedad) ou Takumi Minamino (Mónaco), estes quatro atletas não foram escolhidos ao acaso, uma vez que todos têm algo em comum além da nacionalidade: são estudiosos (do futebol ou de outra vertente) e usam essa apetência pelo conhecimento para se tornarem melhores jogadores.

No caso de Wataru Endo, o capitão da seleção do Japão, já antes de se tornar profissional tinha um blog onde escrevia sobre tática e treinos avançados, além de fazer análises de jogos. Hoje em dia, joga num dos maiores clubes do Mundo, mas não abandonou esse 'hobbie', podendo agora fazê-lo ainda com maior mestria e conhecimento de causa, uma vez que é treinado por um dos melhores treinadores.

Já Mitoma, levou esta aprendizagem mais a sério e além de ter um curso de Educação Física, realizou também uma tese de mestrado sobre a arte do drible. O extremo do Brighton analisou todos os ângulos, desde a melhor forma de enganar o adversário, até à própria reação do defesa e isso ajuda a perceber como tem tanta eficácia nesse capítulo do jogo, ao ponto de se ter tornado um dos melhores dribladores da atualidade.

Aliás, este estudo até influenciou companheiros de equipa, uma vez que Takefusa Kubo já admitiu ter lido a tese do colega, pelo menos, três vezes, o que também ajuda a perceber como é um dos melhores jogadores neste capítulo.

Os outros dois casos afastam-se um pouco do estudo futebolístico, mas mostram a vertente educativa presente no jogador japonês. Tomiyasu, lateral do Arsenal, investiu em pesquisa e educação na altura da pandemia, sendo um dos atletas que mais ajudou financeiramente no estudo e fabricação de vacinas nesse período, enquanto era jogador do Bolonha.

Já Hidemasa Morita, que a certa altura motivou Ruben Amorim a dizer que "todos deveriam ter a oportunidade de treinar um jogador japonês", também investiu em si. O médio só se tornou profissional aos 23 anos, depois de se graduar em Estudos Sociais que, embora pouco tenham a ver com o futebol, mostra o rigor e a vontade de misturar educação e desporto.

Estes são apenas alguns exemplos de jogadores que prosperaram no mundo futebolístico e académico, o que também ajuda a explicar a evolução do jogador japonês e a, cada vez maior, "intromissão" entre a elite mundial. Yuto Nagatomo, Ritsu Doan ou Daichi Kamada, são outros exemplos de craques japoneses que podem ajudar a equipa a chegar aos oitavos de final do Mundial 2022.

Isto é só o início desta nova geração, que promete um futuro brilhante.