Os três golos de Sérgio Conceição à seleção da Alemanha no Euro 2000 foram um catalizador para uma profunda reformulação na forma como se pensa o futebol jovem na Alemanha desde o início do século XXI, revelou, esta terça-feira, o diretor da Federação Alemã de Futebol Ulf Schott na conferência da FPF "Football Talks".

"A seleção de 2000 era muito envelhecida (...) A DFB sentou-se com os clubes e encontrou soluções conjuntas para o melhoramento do futebol. Tivemos de alterar muitas coisas porque fomos muito pressionados pela opinião pública. Temos 8,1 milhões de jogadores juvenis e temos um primeiro escalão de scouting que detetam os maiores talentos de todo o país. Tínhamos de treinar mais e isso só se poderia fazer na escola. A formação contínua dos treinadores também era fundamental pois as pessoas são tão importantes como o sistema. Foi um processo a longo prazo", afirmou Ulf Schott esta terça-feira no Centro de Congressos do Estoril.

E na base do melhoramento dos sistemas competitivos das seleções jovens alemãs estão os cerca de 366 Centros de Alto Rendimento criados pela federação germânica em 2001.

"Há 366 bases regionais para apoio aos talentos de cada região. Todos os talentos na Alemanha têm possibilidade de ser descobertos, independentemente da sua área de residência. Os treinadores dos centros de apoio não são remunerados e têm como função ver jogos no fim-de-semana e fazer a triagem dos melhores jogadores. A tarefa principal dos treinadores é ministrar-lhes sessões de treino individuais e cuidar destes talentos entre os 11 e os 14 anos. Há 29 pessoas na DFB para ajudar a formar os treinadores voluntários. Este trabalho foi feito em conjunto com os clubes e houve uma importante limitação de jogadores estrangeiros nos campeonatos profissionais. Temos 22 centros de alto rendimento que fazem um trabalho muito bom. São mais de 300 funcionários de clubes que tratam em exclusivo da promoção de jovens talentos", frisou o dirigente alemão.

Thomas Muller, André Schurrle e Ikay Gundogan foram dados como exemplos de futebolistas de sucesso com histórias e currículos diferentes ao longo da carreira nas seleções jovens alemãs.

"Neste momento, aos 14 ou 15 anos metade dos jogadores da Bundesliga já estavam em grandes clubes, mas não podemos negligenciar os que não são tão bons. Também temos de lhes dar apoio", disse Ulf Schott.

Ulf Schott salientou a importância da criação de competições adequadas a cada faixa etário e fase de desenvolvimento de cada atleta e o papel de Mathias Sammer no sucesso do futebol jovem germânico. A concluir, demonstrou o habitual pragmatismo alemão: "Nada disto foi barato. Gastámos 130 milhões de euros nos centros de rendimento, investimos muito no sistema de recurtamento de novos talentos. Cada cêntimo foi rentável."