Uma visão pragmática do jogo da primeira jornada do grupo C da Liga dos Campeões, entre Benfica e Zenit, diz-nos que o encontro “acabou” aos 22 minutos, com o segundo golo da equipa russa, assinado por Witsel. Um tento que se seguiu à expulsão do guardião Artur (18’), que deixou o Benfica em inferioridade numérica, e pouco tempo após o golo madrugador do inevitável Hulk, autor de seis golos em 13 jogos contra os encarnados.
Uma visão mais romântica e idealista desta partida dir-nos-ia que o Benfica caiu de pé diante do colosso russo, ao fim de 90 minutos de garra, entrega e esperança. Por acreditarem que, contra a evidente superioridade inicial do Zenit, poderiam mudar o rumo da sua história, que era possível ainda triunfar sobre o seu adversário, os 10 guerreiros encarnados receberam um enorme tributo dos seus adeptos ao longo dos derradeiros 15 minutos. Porque podiam não ganhar o direito à glória, mas não perderam o dever de defender a sua honra.
Foi, por isso, um jogo de contrastes. Dos primeiros 25 minutos horríveis não se salvou nada. A repetição do onze que goleou o Vitória de Setúbal foi desfeita num ápice por um Zenit inteligente, confiante e audaz. Artur foi expulso, Talisca saiu para dar lugar ao veterano estreante Paulo Lopes (36 anos) e os outros nove jogadores sabiam que o destino estava traçado. A má entrada no jogo explica quase tudo do resultado: os encarnados entraram desconcentrados, mal posicionados e lentos. O Zenit deu a resposta inversa e foi premiado com dois golos, que até podiam ter sido mais antes do intervalo.
A segunda parte consumou a redenção possível do Benfica. Numa atuação “quixotesca”, onde os moinhos de vento eram na verdade “gigantes russos” (e brasileiros, argentinos, italianos, portugueses, espanhóis, belgas ou venezuelanos), os encarnados não desistiram de lutar em inferioridade numérica. Salvio e Enzo Pérez foram os expoentes dessa entrega e mereciam melhor sorte do que o destino lhes traçara em campo.
O Benfica conseguiu “mascarar” por momentos a desvantagem de ter menos um e uniu-se na reação que nunca teve direito a prémio. Realce, porém, para a maior concentração dos jogadores neste período. Porque a determinação sozinha não faz milagres, os encarnados pensaram melhor com 10 cabeças em campo do que com 11. Era ainda assim tarde para evitar a derrota, mas a tempo de convencer os adeptos da bravura da equipa. Os aplausos, emotivos e de pé ao longo de 15 minutos, foram o consolo de uma estreia para esquecer do campeão nacional nesta Champions.
Destaques do jogo
O Benfica tinha a obrigação de conhecer bem Hulk. Afinal, o brasileiro já tinha marcado cinco golos aos encarnados, mas ontem estes jogaram como se nunca se tivessem cruzado com o ‘Incrível’. Este agradeceu, claro, e fez mais um golo para a sua conta pessoal, atirou outra bola ao poste e semeou o pânico e destruição na defesa do campeão nacional, contando ainda com a ajuda preciosa de Shatov e Danny.
Do lado do Benfica, Salvio e Enzo Pérez repartiram o protagonismo. O extremo foi o maior dinamizador do ataque e chegou mesmo a sofrer falta para grande penalidade, que não seria assinalada pelo árbitro Svein Oddvar Moen, aos 52’. Já o médio centro assumiu a luta desigual no meio-campo com a entrega e lucidez que o tornou um ídolo na Luz, sendo o grande responsável pelo crescimento da equipa após o intervalo. Pela negativa sobressaíram Artur, que com o seu erro deixou a equipa reduzida a 10, e Jardel, que nunca conseguiu contribuir para a serenidade da equipa na defesa.
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