Foi preciso uma "mãozinha" extra mas já está: o Benfica garantiu o direito de estar entre a "nata" do futebol europeu, ao beneficiar da derrota do Galatasaray frente ao Atlético Munique, depois de ter empatado fora com o Astana a duas bolas. É o regresso dos bicampeões europeus aos oitavos-de-final da maior prova de clubes do futebol europeu, quatro épocas depois.

Rui Vitória vai insistindo que o "caminho faz-se caminhando" e que o Benfica sabe bem onde quer chegar e como lá chegar. O objetivo dos "oitavos" da Champions chega a uma jornada do fim da fase de grupos, sendo que os "encarnados" ainda podem garantir o primeiro lugar do Grupo C e evitar alguns "tubarões" no sorteio. Com cérebro ou sem cérebro, com mais ou menos dificuldades, a "águia" lá vai trilhando o seu caminho na elite do futebol europeu, algo que vinha a falhar nas últimas épocas sob o comando de Jorge Jesus.

O "pontinho" trazido do Astana Arena foi crucial, num jogo muito complicado mas que voltou a evidenciar as muitas fragilidades deste Benfica de Rui Vitória. Sem Luisão, lesionado, e Gaitán, castigado, o técnico resolveu fazer uma mini-revolução no onze, isso em relação à equipa que perdeu em Alvalade por 2-1 para a Taça de Portugal. Lisandro López ocupou a vaga de Luisão, Pizzi a de Gaitán e o miúdo Renato Sanches a de Talisca no meio-campo, fazendo assim a sua estreia a titular no Benfica e logo na Champions. Jonas e Jiménez também voltaram ao onze.

O Benfica sentiu inúmeras dificuldades para se adaptar ao sintético do Astana Arena. O relvado, regado antes do jogo, estava demasiado rápido, o que atrapalhava ainda mais o jogo dos "encarnados". Quem não se importou muito com isso foi o Astana que aproveitou a falta de entrosamento entre Jardel e Lisandro López para lançar "golpes fatais" na defensiva contrária, muito por culpa dos três africanos da frente: Foxi Kethevoama, da República Centro-Africana, Kabananga, da RD Congo e Twumasi, do Gana.

Mais objetivos com a bola, a formação cazaque ia surpreendendo o Benfica, ora com bolas longas para Kabananga, ora com jogadas rápidas de contra-ataque. Twumasi falhou o primeiro aos 18 minutos mas aos 19, o jogador nascido no Gana não perdoou e fez o 1-0, de cabeça, após centro de Kabananga na esquerda. Foi o 15º jogador a estrear-se e a marcar no mesmo jogo na Champions. Aos 31 os cazaques fizeram ao 2-0, agora por Anicic. O defesa desviou com as costas um livre marcado por Foxi na esquerda, batendo Júlio César pela segunda vez. Soava o alarme nas hostes "encarnadas" mas a parceria Brasil-México tratou de minimizar os estragos antes do intervalo: aos 41 minutos Jonas centrou na direita e Raul Jiménez desviou ao primeiro poste, de cabeça, batendo assim Eric pela primeira vez. Era o 1º golo do mexicano na prova, que voltou assim aos golos, três meses depois do último tempo, marcado ao Moreirense.

Rui Vitória conseguiu equilibrar a equipa para a segunda parte, fazendo acertos na defesa mas também no meio-campo. Os "encarnados" passaram a não dar espaço aos avançados cazaques que foram perdendo fulgor com o passar do tempo. Já com André Almeida e Talisca em campo, nos lugares de Sílvio e Samaris, o Benfica vai conseguir evitar a derrota aos 70 minutos, num desvio com a canela de Raúl Jiménez, após centro de André Almeida.

O técnico do Benfica teve um bom "feeliing" que a qualificação não passava de quarta-feira e retirou Jonas do campo, fazendo entrar Cristante para segurar o jogo e o ponto, que daria a qualificação ao Benfica. Tudo seria confirmado quatro horas depois, com a comitiva em pleno voo de regresso para Lisboa, quando o Atlético bateu o Galatasaray.

Os "encarnados" conseguem assim passar da fase de grupos da Champions pela quarta vez, depois de 1994/95, 2005/06 e 2011/12. Das duas vezes que chegou aos oitavos, a equipa só foi travada nos quartos-de-final da liga milionária.

Renato Sanches, que se tornou, aos 18 anos, no jogador mais jovem do século a estrear-se como titular nas provas europeias ao serviço do Benfica, não cabia em si de contente. Já Raúl Jiménez, que marcou três meses depois, não escondeu algum alívio por finalmente ter conseguido fazer golos.

Com altos e baixos, Rui Vitória lá vai conseguindo os objetivos da equipa. O técnico enalteceu a entrega dos jogadores e o caráter demonstrado para recuperar de 0-2 para 2-2.

Este acabou por ser também o primeiro empate do Benfica esta época, ao cabo de 17 jogos. Mas por outro lado os "encarnados" aumentaram para 36 os jogos em que não consegue fazer a reviravolta na Liga dos Campeões, depois de estar a perder ao intervalo. O Astana mostrou que em casa é forte, tendo conseguido três empates nos três jogos. Vai agora disputar com o Galarasaray o terceiro lugar, que dá acesso a Liga Europa.