No verão de 1996, o mundo do futebol despertava para o talento de um tal de Ronaldo, um avançado brasileiro que brilhava ao serviço do PSV e sonhava já com um salto para um grande do futebol europeu.

Com 54 golos em 57 jogos disputados pela equipa holandesa, rapidamente surgiram colossos interessados na contratação do avançado de 19 anos, um dos quais o poderoso Barcelona. O clube catalão chegou a acordo com o PSV para uma transferência por 1,500,000,000 pesetas, o que equivaleria a cerca de 15 milhões de euros. Tudo parecia bem encaminhado, mas uma mudança de posição do PSV transformou o negócio numa autêntica missão de espionagem.

"Não demorámos muito tempo a chegar a acordo com o PSV", recorda Joan Gaspart, então presidente do Barcelona, em entrevista ao Goal. "Mas houve um pequeno problema. Tínhamos de chegar a acordo com o jogador até ao dia 15 de julho, porque era nesse dia que expirava o acordo com o PSV".

Na altura, Ronaldo estava em Miami com a seleção brasileira, juntamente com os seus representantes. O Barcelona entrou em contacto e conseguiu chegar a acordo com os agentes, faltando apenas a assinatura do jogador. Rapidamente Joan Gaspart apanhou um voo em direção ao Brasil, para onde rumou de seguida a equipa 'caraninha'.

Ao chegar ao Brasil, porém, Gaspart tomou conhecimento de um novo desenvolvimento no negócio. O PSV Eindhoven havia mudado de ideias e agora não estava disposto a abdicar do talentoso ponta-de-lança. Para evitar a transferência, e tendo em conta que para tal teria de evitar que Ronaldo assinasse com o Barça antes do dia 15 de julho, ou uma semana depois, o PSV entrou em contacto com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e pediu ao organismo para impedir Ronaldo de assinar com o clube espanhol.

Quando Gaspart chegou ao Brasil...bom, tem a palavra o antigo presidente: "Estavam lá dois seguranças que não me queriam deixar passar para falar com o Ronaldo ou com qualquer outro jogador". Gaspart ficou surpreso, mas começou a pensar num plano.

"Conheci um empregado de mesa no hotel e ele emprestou-me o uniforme de trabalho dele, uma bandeja e uma Coca-Cola. Eu vesti o disfarce, cumprimentei os seguranças e disse-lhes que um hóspede tinha pedido uma bebida. Desta vez, deixaram-me passar"

"Bati à porta do Ronaldo e ele abriu-a. Assinou o contrato ali mesmo, na cama", recorda Gaspart. Toda a situação levou a uma autêntica 'galhofa' no quarto de hotel e Ronaldo acabou mesmo por rumar a Barcelona.

A passagem pelo Camp Nou durou apenas uma temporada, mas foi suficiente para deixar saudades entre os adeptos do clube catalão: 34 golos em 37 jogos no campeonato, a conquista da Taça do Rei e da Taça das Taças - faltou a Liga -, assim como o seu primeiro prémio de melhor jogador do mundo da FIFA. No fim da temporada rumou ao Inter de Milão.