Portugal e Irlanda, que já estavam juntos no barco de resgate financeiro ao FMI, voltam a dar as mãos mas em prol do futebol.

O pedido de ajuda financeira
Em Novembro de 2010, a República da Irlanda pediu resgate financeiro à União Europeia no valor de 100 mil milhões de euros.

O dispositivo de ajuda foi ainda completado com empréstimos bilaterais do Reino Unido e da Suécia, com o intuito de salvaguardarem os seus bancos.

Nessa altura, a Irlanda foi o segundo país a pedir ajuda europeia depois da Grécia. No mês passado, Portugal tornou-se o terceiro país a ver as suas contas complicarem-se, não escapando à inevitabilidade de recorrer à ajuda externa.

Neste mês de Maio, o Fundo Monetário Internacional (FMI) desbloqueou mais 1.58 mil milhões de euros direccionados aos irlandeses.

A verba emprestada à Irlanda, cujo capital recebe, esta quarta-feira, a grande final da Liga Europa, com os portugueses FC Porto e Sporting de Braga a disputarem o troféu, tinha um “preço” alto a pagar, com contra-indicações pesadas.

Veja algumas das medidas impostas pelo FMI:
Pensões
- Corte de 4% em todas as reformas do sector privado;
- Definição de um tecto máximo no valor da pensão a pagar pelo Estado a todos os cidadãos;

- Pagamento das reformas tendo por base 12 meses;
- Fim da acumulação de várias pensões de reforma.

Prestações Sociais
- Diminuir o valor do salário mínimo;
- Diminuir o tempo de pagamento do subsídio de desemprego;
- Alterar as regras de acesso ao abono de família;
- Terminar com todos os subsídios sociais para os salários mais elevados.

Impostos
- Subida dos impostos sobre a propriedade;
- Subida dos impostos sobre as mais-valias de capitais n Introdução de taxas sobre os veículos mais poluidores;
- Subida da taxa de IRC;
- Subida das taxas de IRS para os escalões mais elevados.
Sector empresarial e Função Pública
- Redução do número de serviços e de funcionários públicos;
- Redução do número de dias de férias;
- Definição e fixação por organismos independentes dos preços da electricidade e da água.

Saúde
- Fim da gratuitidade dos serviços de Saúde para os rendimentos mais elevados;
- Revisão dos contratos das parcerias público-privadas;
- Fim da construção de novos hospitais e centros de saúde.

Recentemente, a agência de ‘rating’ Moody baixou mais dois níveis a classificação da Irlanda, sendo a nota mais baixa entre os pagadores de confiança, justificando com a deterioração das perspectivas económicas, nomeadamente o enfraquecimento da solidez financeira do Governo do país.

Caso a nota do país desça mais um patamar, a Irlanda poderá sofrer um forte aumento nas taxas de juro do seu financiamento.

Como vivem os irlandeses
O SAPO Desporto está em Dublin a acompanhar a final da Liga Europa, passada para segundo plano devido à visita da Rainha Isabel II, e em conversas com taxistas e comerciantes apercebe-se que os irlandeses esperam mais uns 10 a 15 anos de austeridade, num país cujo ordeno mínimo ronda os 1300 euros, mas com um nível de vida mais elevado que o nosso, até porque a Inglaterra está ali ao lado.

Agora, tal como em Portugal, os habitantes irlandeses sabem que parar não é a solução e tentam gerir os gastos da melhor forma, com a classe média a ser a mais aflita nestes momentos.

O diário irlandês "Sunday Independent" escreveu, num artigo de opinião, uma carta dirigida a todos portugueses, em tom crítico depois da chegada do FMI à Irlanda.

«Também tivemos um governo novo e é divertido nas primeiras semanas. O que vocês irão descobrir é que o novo governo vai chegar entre um clima de euforia do povo,  vai fazer todo o tipo de promessas durante as campanhas para as eleições. Depois, quando estiver no poder, o governo irá imediatamente para a Europa jogar os seus dados. O povo irá sentir boas vibrações no ar, tal como qualquer pessoa que se refugia na ilusão», escreveram.