A história dos ataques racistas no futebol inglês teve a sua primeira grande expressão contra aquele que é considerado o primeiro atacante negro da história do futebol inglês, o avançado centro Walter Tull.

O jovem futebolista nasceu em Inglaterra em 1888, filho de um imigrante dos Barbados e neto de escravos.

Depois de ficarem órfãos, Walter e o irmão Edward foram enviados para um orfanato, em Londres, onde começa a dar os primeiros pontapés na bola. Após terminar os estudos, ingressou na equipa Clapton, um clube amador londrino, mas na época de 1908-09 Walter Tull ajudou a equipa a fazer uma boa época, vencendo a Amateur Cup, a London Senior Cup e a London Countu Amateur Cup.

Os jornais falaram de Walter como «a revelação da época», com um «extraordinário jogo de pernas» e da sua «classe muito superior à média». E com a contratação pelo Tottenham Hotspur, Walter Tull tornou-se no segundo jogador profissional negro em Inglaterra, depois do guarda-redes Arthur Wharton, que assinou pelo Preston North End, em 1886.

A seguir a uma digressão pela América do Sul, Walter recebeu dos Spurs dez libras pelo contrato e um salário de quatro libras por semana, com a equipa a ser promovida à Primeira Divisão da Football League.

Apesar de enfrentar um coro de adeptos contrários racistas, que chegavam aos trinta mil, dos permanentes insultos e humilhações em campo, Walter deslumbrava os jornalistas.

Mas a pressão racista sobre o jogador era cada vez mais maior e nem o próprio clube sabia como lidar com o problema, e aos poucos foi abandonando o jogador. Walter Tull viu-se obrigado a mudar de emblema e em 1914 assinou pelo Glasgow Rangers. Mas o eclodir da Primeira Guerra Mundial impediu-o de jogar mais.

 Herói nos relvados e no campo de batalha

Em janeiro de 1916, o ex-jogador participou na ofensiva do Somme, onde caiu doente e foi transferido para Inglaterra. Mas o seu desempenho no campo de batalha tinha impressionado os seus oficiais de tal maneira que o propuseram para uma promoção.

Depois de recuperar, Walter Tull iria fazer outra vez história, desta vez não no campo de futebol, mas como aluno na escola de oficiais, tornando-se no primeiro oficial negro da história do exército britânico e rompendo os regulamentos que proibiam expressamente que "nenhum negro ou pessoa de cor" pudesse ser oficial do exército.

Contra tudo e todos, Walter Tull regressou ao campo de batalha como comandante de soldados "brancos" que o seguiram por entre balas e obuses, enfrentando o inimigo nas trincheiras. Walter Tull caiu mortalmente ferido e, apesar de muitas tentativas dos seus soldados, o seu corpo nunca foi recuperado.

Walter Tull e os seus feitos desportivos e militares cairiam no esquecimento por várias décadas. Nos últimos anos tem sido reabilitado, em especial através de reportagens de televisão e documentários. A juntar ao Walter Tull Memorial junto ao estádio do Northampton vários monumentos tem sido propostos para recordar a sua história.