Poucos são os jogadores que conseguem reunir consenso tantos de adversários como de colegas. N´Golo Kanté é um deles. Não há nenhum treinador, jogador ou jornalista que não fale do médio do Chelsea sem ser em tons de elogio. O francês de 25 anos mudou o jogo dos londrinos e é um dos pilares da caminhada dos ´blues` na Premier Leeague: 26 jogos, 20 vitórias, três empates e três derrotas, e liderança isolada com mais 10 pontos que o segundo colocado.

Este pequeno e irrequieto médio saltou para ribalta com o título inédito do Leicester na Premier League. Em Inglaterra, todos elogiavam a caminhada da equipa de Ranierei em 2015/2016, dos golos de Vardy, às assistências de Mahrez. Mas o ´cimento` que unia a equipa, o homem que ligava os setores e que estava em todo o lado era N´Golo Kanté. Tanto que em Inglaterra passou-se a usar uma frase para descrever as exibições do baixinho médio: ´A água cobre 71% da terra. O resto é coberto por N´Golo Kanté`.

Da 9.ª divisão do futebol francês para o líder da Premier League

Foi no Jeunesse Sportive de Suresnes, um clube amador dos arredores de Paris, que Kanté começou a dar os primeiros passos no futebol. Pierre Ville, secretário e um dos treinadores da equipa, ainda se lembram do dia em que Kanté, então com nove anos, chegou ao clube.

"Quando chegou, tinha metade do tamanho dos outros, era mesmo pequeno. Era baixinho mas quando começou a jogar, superou toda a gente. Jogava contra jogadores mais velhos. Tinha metade do tamanho e peso", recorda Ville, em declarações ao jornal inglês ´The Sun`.

"É um jogador extraordinário, muito equilibrado. Não fala muito, é muito educado, não é tímido, simplesmente não fala muito. É muito discreto. Há uma relação entre a sua forma de jogar e a sua inteligência. Lê e analisa o jogo muito rapidamente. É preciso ser muito inteligente, muito focado para se poder analisar as diferentes situações e tomar decisões. Em 100 ações, ele consegue acertar em 99", elogia Ville, o homem que já trabalhou com várias gerações de futebolistas no clube amador dos arredores de Paris.

Alias a fisionomia franzina de Kanté não foi o único aspeto que preocupava os técnicos que já o orientaram.

"Nunca sabíamos se ele estava a ouvir ou se percebia o que lhe dizíamos porque nunca dizia nada. Falávamos com ele, dávamos-lhe conselhos, olhava para nós e nunca dizia nada. No entanto, umas semanas depois, podíamos ver pelas suas ações que ele estava a ouvir", recorda Ville.

Rejeitado pelo PSG

Foi a sua figura franzina que fez com que não ficasse no PSG. Foi prestar provas no gigante de Paris mas acabou por não ficar.

Mas não foi só o PSG a rejeita-lo. Entre os 14 e 15 anos foi rejeitado várias vezes. Levei-o ao PSG e outras pessoas levaram-no a outros clubes como o Lorient, Rennes, Sochaux e outros. E todos diziam: "Bom, temos muitos jogadores tão bons ou melhores do que ele", recorda Ville, na entrevista ao ´The Sun`. "Ele era mesmo muito baixinho e em França, olha-se sempre para o físico quando se observa um jovem jogador. Os olheiros não conseguiram ver as suas verdadeiras qualidades", finalizou.

Com tantas rejeições, Kanté chegou mesmo a duvidar das suas capacidades: "Bom, se não estou ao nível do que eles querem, é normal ser rejeitado", contou. Mas foram essas rejeições que acabaram por moldar ainda mais o seu caráter. Essa é a opinião de Georges Tournay, técnico que trabalhou com Kanté no Boulogne.

"Foi rejeitado tantas vezes que acabou por forjar nele uma vontade de ferro porque nunca desistiu. Tenho a certeza que sofreu por causa disso, apesar de nunca ter falado no assunto”, explica.

Kanté só se mudou para o Boulogne, aos 19 anos, porque o presidente do JS Suresnes, Jean Pierre Perrinel, tinha um filho a jogar no clube e acabou por pedir que deixassem o médio prestar provas. Foram tempos difíceis para Kanté que acabar de entrar nas reservas do Boulogne, um clube da segunda divisão à caminho da despromoção. Foi já no terceiro escalão do futebol francês que finalmente chegou à primeira equipa do clube.

Quilómtros de humildade: de Scooter para Mini Cooper

O que chamou a atenção dos colegas e treinadores no Boulogne, além das suas qualidades em campo, foi a sua humildade. Kanté ia para os treinos numa scooter.

"Quando o vi chegar para treinar numa scooter, percebi que ele estava um pouco envergonhado mas nunca dise nada. Quando os colegas viram que vinha aos treinos a pé ou então de scooter, disseram-lhe: ´N´Golo, podemos dar-te boleia. Onde moras?`. Depois organizaram-se e cada dia um colega ia busca-lo à casa e leva-lo de volta depois dos treinos", recorda Tournay.

Do Boulogne, da 3.ª divisão, saltou par ao Caen, da segunda. Aí já não podia ir de scooter para os treinos.

"O seu sonho era comprar um Renault Clio", recorda Villes. No Caen, arranjaram-lhe um Renault Megane em segunda mão.

No Chelsea subiu de nível no que ao carro diz respeito, comprando um Mini Cooper. Ville ri-se desta escolha: "E os seus colegas de equipa que ganham 500 mil euros por mês, que conduzem? Ferraris, Lamborghinis, Rolls Royce".

Quando começou a dar nas vistas no Caen, a imprensa começou a perguntar por ele e a pedir entrevistas. Kanté é que não estava nada empolgado nesse papel de estrela.

"Porquê? O que é isto agora? Ainda não fiz nada. Porque não voltam daqui a seis meses quando tiver feito algo de especial?”, questionou, na altura.

Kanté caminha-se para ser eleito pela segunda vez consecutiva Melhor Jogador da Premier League. Se no final da época vencer o título com o Chelsea, iguala um feito que só Cantona conseguiu na prova, em 1993: ser campeão em dois anos seguidos por dois clubes diferentes.

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