A Amnistia Internacional (AI) advertiu hoje para a exploração laboral dos trabalhadores imigrantes que contribuem para os preparativos do Mundial2022, no Qatar, criticando a “escandalosa indiferença” da FIFA.

A AI, num relatório intitulado “O lado obscuro do desporto rei: Exploração laboral numa sede do Mundial do Qatar 2022”, critica a FIFA pela sua “escandalosa indiferença face ao péssimo tratamento dos trabalhadores imigrantes” naquele país.

Em comunicado, emitido a partir da sua sede em Londres, a organização de defesa dos direitos humanos assinala que o relatório foi elaborado depois de se ter reunido com 132 imigrantes que trabalham na construção do Estádio Internacional Khalifa, o primeiro que estará finalizado para o Mundial que tem lugar dentro de seis anos.

“O abuso dos trabalhadores é uma mancha na consciência do futebol mundial. Para os jogadores e adeptos, um estádio de um Campeonato do Mundo é um lugar para sonhar, mas para algumas pessoas que falaram connosco é um pesadelo”, afirmou o secretário-geral da AI, Salil Shetty.

“Apesar de terem passado cinco anos de promessas, a FIFA fracassou quase completamente em evitar que se vá disputar um Mundial num lugar em que se violaram os direitos humanos”, acrescentou.

A organização entrevistou também 99 empregados na construção de espaços verdes do complexo desportivo Aspire Zone, onde durante a pausa de inverno treinaram equipas como o Bayern Munich, Everton e Paris Saint-Germain.

A AI reuniu-se no Qatar com os trabalhadores, a maioria dos quais oriundos de países como Bangladesh, Índia e Nepal, entre fevereiro e maio do ano passado.

Todos denunciaram viver em condições sub-humanas e sem direitos básicos, pois carecem de autorizações para entrar ou sair do país ou para mudar de empresa ou empregador, ao mesmo tempo que lhes confiscam os passaportes e documentos de identidade e não lhes pagam o acordado.

“Têm dívidas, vivem em condições miseráveis em acampamentos no deserto e pagam-lhes uma miséria. A vida dos trabalhadores imigrantes contrasta com as dos futebolistas que vão jogar nesse estádio”, sustentou o mesmo responsável.

“Todos querem ter direitos: que lhes paguem a tempo, poder sair do país se for necessário e ser tratados como respeito e dignidade”, sublinhou o secretário-geral da AI.

A organização pediu à Adidas, Coca-Cola e McDonald’s – principais patrocinadores da FIFA – que pressionem o organismo máximo do futebol mundial para que trate da situação dos trabalhadores imigrantes no Estádio Jalifa e para que elabore um programa que evite eventuais abusos em futuros projetos do Campeonato do Mundo.

“Acolher um Mundial ajudou o Qatar a promover-se como um destino de elite para algumas das equipas mais importantes do mundo. Contudo, o mundo do futebol não pode ignorar esta série de abusos nas instalações e estádios onde se vão disputar os jogos”, vincou.