O Mundial de futebol, que vai realizar-se no Brasil em junho, levou indiretamente o papa emérito Bento XVI a antecipar em um ano a renúncia, em fevereiro de 2013, contou hoje o secretário particular à imprensa alemã.

Ao suplemento semanal do diário Suddeustsche Zeitung, da Baviera (sul), o arcebispo Georg Ganswein disse que Bento XVI resignou mais cedo do que pretendia, depois de as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, inicialmente previstas para o verão de 2014, terem sido antecipadas para o verão passado, para não coincidir com o Mundial de futebol.

Isso "passou-se exatamente assim", declarou Ganswein.

O papa alemão tomou, em agosto de 2012, a decisão de renunciar ao cargo - um ato histórico - que anunciou ao secretário particular em dezembro do mesmo ano.

Bento XVI queria garantir que o sucessor assistia às JMJ, no Rio de Janeiro.

"A minha reação espontânea foi dizer 'Não, Santo Padre, não tem esse direito'. Mas foi uma reação emotiva e rapidamente percebi que ele não me estava a dizer aquilo para tomar uma decisão, mas porque a sua decisão já estava tomada", explicou Ganswein.

Apenas quatro pessoas foram informadas da decisão do papa emérito.

Os cardeais presentes quando o papa anunciou a renúncia, em latim, levaram algum tempo a perceber o que se estava a passar, acrescentou.

"Alguns rostos estavam petrificados, outros incrédulos, desamparados, chocados. Eles olhavam uns para os outros, perguntando-se 'percebi bem?'", disse.

O exemplo de João Paulo II, que concluiu o pontificado doente e a sofrer, foi determinante na decisão de Bento XVI.

"Continuar como o seu antecessor terminou, ou mesmo imitá-lo, não era uma opção" para Bento XVI, sublinhou.

Sobre o argentino Jorge Mario Bergoglio, Ganswein considerou "um grande presente" a "alegria religiosa" latino-americana que levou ao Vaticano.

"Ele trouxe consigo uma religiosidade musical, que nós, na Europa, devemos obviamente voltar a aprender. E isso pode fazer-nos bem", garantiu Ganswein sobre Francisco, num encontro com o biógrafo de Joseph Ratzinger, Peter Seewald.

Na opinião de Ganswein, as diferenças entre Bento XVI e Francisco são óbvias, mas são mais de "personalidade, estilo, gestos" que substanciais.

"Todos os temas principais de Francisco, a alegria, a esperança, o amor, a misericordia, foram temas dominantes de Bento XVI", declarou.

Para o arcebispo alemão, que chegou a ser capa da revista norte-americana Vanity Fair, Francisco "é um homem de gestos", alguém que realiza ações "que não se esperam dele", enquanto Bento XVI era um homem que se ouvia com atenção para assumir as suas palavras.

"Com Francisco, as pessoas querem ver como faz isto, ou como assume aquilo. Ele é um homem que entendeu a necessidade de se dirigir às pessoas, não apenas aos intelectuais", indicou.