Quando foi anunciada ao mundo, com pompa e circunstância, em setembro de 2012, a caxirola era o símbolo da enorme tradição musical brasileira aplicada ao futebol e ao Campeonato do Mundo de 2014. A criação do músico Carlinhos Brown era a resposta brasileira às irritantes vuvuzelas do Mundial 2010, na África do Sul. 

Inspirada no caxixi, uma espécie de chocalho usado pelos indígenas e que costuma acompanhar a capoeira, este instrumento oferecia uma sonoridade mais agradável aos espectadores e tinha ainda uma mensagem ecológica, devido aos materiais utilizados para a sua produção.

A força da aposta na caxirola media-se pelas próprias palavras da presidenta Dilma Roussef. «Eu acredito que a caxirola faz parte não só do futebol, mas da imensa capacidade do nosso país de fazer um instrumento muito mais bonito que a vuvuzela. E eu tenho certeza que principalmente as crianças deste país vão ter uma experiência fantástica com a caxirola. O Carlinhos não disse, mas ele falou-me que a caxirola também tem um sentido transcendental de cura, enfim, de paz com o mundo, de estar de facto em sintonia com a natureza», declarou.

Contudo, não há música que embale adeptos quando estes apenas veem maus resultados da sua equipa. E, assim, a caxirola caiu em desgraça a 28 de abril de 2013, com a ‘torcida’ do Bahia a não perdoar a derrota com o rival Vitória (2-1). Depois de serem distribuídos gratuitamente antes do jogo, centenas de exemplares do pequeno instrumento de plástico foram atirados em protesto para o relvado, levando mesmo à interrupção da partida. Nessa altura ainda o marcador refletia 2-0, mas para os adeptos do Bahia era como estar a ser goleado.

No Arena Fonte Nova, em São Salvador, um dos recintos que vai acolher os jogos do próximo Mundial, estavam “somente” representantes da FIFA e o próprio Carlinhos Brown, baiano de gema, que ali foi traído pelos seus conterrâneos. O incidente seria batizado posteriormente como a ‘Revolta das Caxirolas’ e ditou uma sentença de morte sobre um produto exclusivamente feito a pensar no Campeonato do Mundo.

Nem a presença da presidenta Dilma Roussef no seu lançamento ou as críticas generalizadas à postura dos adeptos do Bahia conseguiram evitar que a caxirola se tornasse a primeira ‘baixa’ do Mundial 2014. No passado mês de maio, o Comité Organizador Local (COL) decretou, com a bênção da FIFA, que o instrumento ‘made in Brasil’ estava proibido de entrar nos estádios anfitriões da Taça das Confederações, pois poderia funcionar como uma arma de arremesso. Da prova realizada em junho à proibição no Mundial do próximo ano foi um pequeno passo.

«Não será permitida a entrada de torcedores com nenhum instrumento musical e a caxirola entra neste espaço. Estamos adaptando isto já nos jogos-teste e na Copa das Confederações essa regra também vai valer», declarou então Hilário Medeiros, responsável pela segurança no COL.

Agora, sem vuvuzelas ou caxirolas, a animação nos estádios do Mundial 2014 ficará, exclusivamente, por conta dos adeptos… até que a voz lhes doa.