O festival 'Brasil em Movimento', em Paris, centrou-se este domingo na realização do Mundial de Futebol de 2014 e nas manifestações em várias cidades brasileiras que agitaram uma comunidade "em (re) construção".

O festival apresentou as curtas metragens "O pai do gol", "Virou o jogo : história de Pintadas", "Vila das Torres" e "Jogos de poder", seguidas do debate intitulado "Futebol e Mundial de 2014: paradoxos e questões de uma comunidade brasileira em (re)construção".

Pedro Barbosa Mendes, investigador do laboratório "Território e Comunicação" da Universidade Federal do Rio de Janeiro, disse à Lusa que «o que fez disparar a fagulha inicial no Brasil foi a questão dos transportes», no entanto «depois disso várias questões emergiram».

A população a manifestar-se em massa é descrita pelo investigador brasileiro como «jovens que vão pra a universidade pela primeira vez na sua famílias, que são negros, pobres e que ao mesmo tempo são super hábeis em circular pela cidade, têm todo o conhecimento de um território que se carrega no corpo».

Estes jovens são «uma geração que teve maior nível de acesso aos serviços, que é uma coisa nova para os pobres e para os negros, mas é uma geração que cresce num ambiente em que já não precisa de esperar que as coisas aconteçam», uma geração à qual Pedro Mendes apelida de "Eu vou lá e faço".

O investigador acredita que há uma série de componentes presentes em «toda a história do Brasil» que culminaram nas atuais manifestações, que são «uma violência sem limites e um nível de desigualdade que é inimaginável para qualquer país europeu, mesmo com crise».

Uma das problemáticas abordadas pelo debate, e ilustrada pela curta metragem "Jogos de poder", tem a ver com a expulsão da população dos seus bairros para serem construídos estádios e infra-estruturas de suporte ao evento.

A Amnistia Internacional revelou que, a par das construções para o Mundial de 2014, foram expulsas até ao momento 19 mil pessoas no Rio de Janeiro.

André Procópio, representante do filme "O pai do gol", referiu que "o Brasil já gastou cerca de 33 biliões de reais, o que é três vezes mais do que o que foi gasto na última copa do mundo".

O festival 'Brésil en Mouvements' é organizado desde 2005 pela associação 'Autres Brésils', com o objetivo de promover documentários e debates sobre direitos humanos e problemas sociais no Brasil.

A 9.ª edição do festival trouxe a Paris temas como o trabalho doméstico, saúde, exclusão social, ditadura e resistência, além da polémica em torno do mundial de futebol de 2014, que terá lugar no Rio de Janeiro.