A pior prestação do brasileiro Ronaldo num Campeonato do Mundo de futebol marcou também a sua máxima consagração.

Os três singelos golos apontados no torneio juntaram-se aos 12 apontados nas duas presenças anteriores e elevaram-no – com 15 tentos - ao topo dos melhores goleadores de sempre dos Mundiais que hoje recordamos na rubrica "Um Oceano de Histórias".

Ao contrário das outras edições, o ‘Fenómeno’ já não era a estrela da companhia. Esse papel assumido ao longo de quase uma década pertencia agora a Ronaldinho, cuja magia e criatividade fascinavam os adeptos por todo o Mundo. 

A competição realizada na Alemanha seria também a sua última com a camisola do Brasil, permanecendo desde então como uma grata recordação dos Mundiais.

Um ator secundário num mau filme

Se as lesões tinham marcado a preparação para o Mundial de 2002, desta feita tinham sido as regalias que o pouparam a muitos jogos do ‘escrete’ e a má forma física que o seu excesso de peso começava a revelar. No Mundial de 2006, Ronaldo, com 29 anos, havia encontrado o seu fulgor no Real Madrid, mas tardava em conseguir traduzir essa influência na seleção canarinha. Ronaldinho Gaúcho e Kaká remetiam-no agora para um papel mais secundário e onde começava a ser questionado.

Os adeptos rapidamente se esqueceram das proezas de 2002 e exigiam a Carlos Alberto Parreira a saída de Ronaldo da equipa. Com efeito, o avançado ‘ficou em branco’ nos dois primeiros jogos. Mais do que a ausência de golos, era a ausência de empenho e de ritmo que irritava a ‘torcida’ brasileira.

Todavia, Ronaldo deu nova prova de vida ao terceiro jogo, renascendo com um bis na goleada ao Japão, por 4-0. Estava alcançado o recorde de 14 golos de Gerd Muller que resistia desde 1974. O ‘Bombardeiro’ alemão tinha agora a companhia do brasileiro no Olimpo, mas em poucos dias ficou sozinho e relegado para o segundo lugar dos melhores marcadores.

No desafio dos oitavos de final, o Brasil enfrentava o Gana e não deu hipóteses à seleção africana. Um triunfo sólido por 3-0, abrilhantado com um feito histórico: o 15º golo de Ronaldo em Mundiais. Quando estavam decorridos apenas cinco minutos, como se tivesse pressa para arrumar a questão, foge como uma seta à defesa africana, após passe de Kaká. 

Perante o guarda-redes ganês Kingson, Ronaldo bailou - como tantas vezes fizera no passado - e isolou-se para rematar facilmente para o golo. Quis o destino que o recorde de 32 anos do goleador alemão Gerd Muller caísse no seu próprio país.

Um lance exemplar do seu estilo único fechou assim as suas contas nos Campeonatos do Mundo, já que logo a seguir o Brasil seria eliminado pela França nos quartos de final. Sem grande brilho, mas coberto de glória, Ronaldo disse adeus aos Mundiais com o recorde de 15 golos. 

Se a marca parece ainda hoje inalcançável para a maioria dos jogadores, como seria se a marca do ‘Fenómeno’ sem as lesões e o excesso de peso? A resposta, essa, fica na memória de quem se lembra dos seus dribles estonteantes e dos muitos golos.