Esta semana, a rubrica "Um Oceano de Histórias" debruça-se sobre Brasília e o Estádio Nacional Mané Garrincha.

O anjo das pernas tortas 

Se Deus escreve certo por linhas tortas, Mané Garrincha jogava futebol com as pernas tortas que o elevaram à condição de “Anjo”. Um talento improvável que construiu uma carreira notável no Botafogo e na seleção do Brasil, onde foi bicampeão do Mundo (1958 e 1962).

Numa época onde Pelé era o ‘Rei’, Garrincha tornou-se indispensável ao ‘escrete’. Em 61 jogos registou apenas um desaire. E quando Pelé se lesionou gravemente em 1962, o extremo direito assumiu a liderança da equipa e jogou pelos dois no Mundial do Chile, levando o Brasil à revalidação do título.

Verdadeiro mago do drible, Garrincha tinha o dom de ser simultaneamente decisivo nos relvados e uma inspiração para a ‘torcida’. Como escreveu Vinicius de Moraes, o craque nascido em Magé (Rio de Janeiro) «foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas».

Oriundo de uma família pobre, o jovem Manuel Francisco dos Santos – o seu verdadeiro nome - despontou para o futebol com 14 anos no Esporte Clube Pau Grande. Apesar de ter uma perna mais curta do que a outra (a direita tinha menos seis centímetros do que a esquerda) e ambas “viradas” para o lado esquerdo, Garrincha rapidamente deu nas vistas. Ato contínuo, voou, como o pássaro Garrincha que deu origem ao seu apelido no futebol, para o popular Botafogo.

Ao longo de 12 anos marcou presença em mais de 600 desafios e marcou mais de 200 golos. Mais ainda foram os dribles estonteantes exibidos nos relvados, nos quais se divertia – e fazia rir os outros – a fintar uma, duas e três vezes o mesmo adversário. Seguiram-se mais algumas aventuras nos anos seguintes, sem grande sucesso mas sempre marcante até ao adeus em 1972.

Fora de campo, Garrincha não tinha o mesmo virtuosismo a driblar as tentações e cedeu demasiadas vezes ao álcool, que lhe viria a provocar uma cirrose hepática. Morreu aos 49 anos, em 1983, com o caixão envolto numa bandeira do Botafogo.

O último drible de Garrincha

Mané Garrincha não viveu o suficiente para colher as honras de uma carreira gloriosa. Porém, o futebol brasileiro não se esqueceu dele. Assim, 30 anos após a sua morte, a força da sua memória vergou a vontade da FIFA num ‘braço de ferro’ por causa do estádio de Brasília.

Aquele que foi o recinto mais caro construído para o próximo Campeonato do Mundo de 2014, com capacidade para 71 mil pessoas, deveria chamar-se apenas Estádio Nacional por vontade do organismo máximo do futebol mundial.

Mas quis o destino que Garrincha conseguisse um derradeiro drible e viu o povo brasileiro levantar-se em protestos contra a FIFA, exigindo o nome do “Anjo das Pernas Tortas”. Para a alegria do povo, Brasília conta agora com o Estádio Nacional Mané Garrincha.

Veja esta e outras histórias no "Oceano de Histórias", a rubrica que o vai levar até ao Mundial 2014.  

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