Em Salvador, no estado brasileiro da Baía, as vendedoras ambulantes, conhecidas como "baianas", começam a se preparar para vender os tradicionais "acarajés" durante o Mundial, depois de terem vencido a FIFA na proibição do trabalho informal nos recintos desportivos.
Os acarajés são uma iguaria tradicional feita à base de feijão branco, frita em óleo de palma e que pode receber diversos tipos de recheios, como molhos com camarão e peixe, geralmente muito apimentados.
Grupo majoritariamente formado por mulheres afrodescendentes da terceira idade, as baianas são consideradas património cultural imaterial da cidade de Salvador e do estado da Baía.
Facilmente identificadas pela saia longa e bata brancas, e turbante na cabeça, as baianas, além de cozinheiras de primeira, possuem uma forte ligação com o Candomblé, religião de matriz africana mantida levada pelos primeiros escravos para o Brasil.
"Antigamente, só vendiam acarajé as filhas de Iansã [deusa do Candomblé]: Era uma obrigação que com os anos passou a ser vendido para ajudar na renda dessas mulheres", explicou à Lusa a presidente da Associação das Baianas do Acarajé, Rita Santos.
Atualmente as baianas religiosas separam os primeiros seis acarajés como "oferenda" à deusa, e comercializam os restantes, acrescentou.
Acostumadas a vender o produto dentro dos estádios, as baianas viram seu trabalho proibido após a reforma da arena Fonte Nova, em Salvador, reconstruída para receber os jogos do Mundial, que começam dia 12 de junho.
A exclusão da tradição e da comida típica levou a associação a iniciar uma campanha popular, em finais de 2012, que resultou em quase 18 mil assinaturas recolhidas num abaixo-assinado que obrigou a FIFA a voltar atrás na decisão, autorizando a venda dos acarajés na zona dos patrocinadores, no parque de estacionamento do estádio.
"Antes de a arena ser demolida, éramos dez. Durante o Mundial só foram autorizadas seis", reclama a representante, adiantando que se espera que o espaço também seja aberto aos patrocinadores que compraram bilhetes para outros portões.
"Na Taça das Confederações a venda foi muito baixa, porque só passou pelo local onde estávamos quem tinha comprado ingresso para entrar por aquela porta, esperamos que agora a FIFA autorize a entrada de todos", acrescentou.
Para garantir o "selo FIFA", as vendedoras realizaram na última semana um curso de formação de regras sanitárias e receberão ainda esta semana a visita fiscais que vão vistoriar o local de confeção e a qualidade da água utilizada.
A arena Fonte Nova, em Salvador, será palco do jogo entre as seleções portuguesa e alemã, na primeira jornada da prova, no dia 16 de junho.
No Rio de Janeiro, as baianas ainda lutam pelo direito de estarem presentes à volta dos estádios, e decorrem negociações para a possibilidade de se estabelecerem a cerca de dois quilómetros.