Foi por entre as trincheiras da I Guerra Mundial que Jules Rimet teve uma certeza para o futuro: o futebol como uma “arma” de união entre povos. Integrado no exército francês, pelo qual foi condecorado com uma Croix de Guerre, o advogado constatou o poder do desporto ao serviço da paz. Um ensinamento que aplicou nos seus 33 anos de presidência da FIFA.

A Trégua de Natal de 1914 foi um exemplo duradouro na memória de Jules Rimet, na qual alemães e ingleses conseguiram por alguns dias colocar as armas de lado e caminhar lado a lado na “Terra de Ninguém”, onde chegavam mesmo a jogar futebol e a trocar presentes. Os seus planos para mudar o futebol foram interrompidos pela guerra, mas apenas durante o tempo necessário para reforçar as suas convicções.

Nascido em 1873, na pequena vila de Theuley-les-Lavoncourt (França), Jules Rimet deixou a terra com a família aos 11 anos para rumar a Paris, onde começaria a dar luz aos seus sonhos e ambições. Sem pertencer à aristocracia, Jules conseguiu trilhar o seu caminho até ao topo. Com apenas 24 anos funda um clube, o Red Star, congregando diversas modalidades, nomeadamente o futebol, do qual nem era praticante, mas somente um devoto apreciador.

A sua carreira de sucesso e o seu empenho deixaram-no na rota da FIFA, o organismo que ajudou a criar em 1904. A primeira pedra estava lançada, mas a “construção” desse percurso seria interrompida pelo desencadear da guerra. Porém, nem um confronto militar de proporções até então inimagináveis o desviou de um ideal para o futebol. 

Do fim da guerra ao início dos mandatos

Após o conflito, assume em 1919 a presidência da Federação Francesa de Futebol e dois anos depois faz o mesmo no organismo mundial, acumulando os dois cargos durante décadas. Se a sua liderança em França durou 23 anos, a ocupação do cargo mais alto da FIFA vigorou até 1954, despedindo-se das suas funções já com 81 anos de idade.

Ao longo dos 33 anos de presidência na FIFA, muito foi feito em prol do futebol, sendo o Campeonato do Mundo o seu maior legado. Inspirado pelo torneio olímpico de futebol, Jules Rimet contrariava apenas a visão do amadorismo na modalidade, salientando a importância do profissionalismo como uma forma de promoção e evolução social numa sociedade profundamente limitada.

Em 1928, o presidente da FIFA apresentou os seus planos para a primeira ‘Copa’, com o torneio a ver a luz do dia dois anos depois, em 1930, no Uruguai, que prometia o pagamento de todos os custos com as viagens transatlânticas das seleções participantes. Contudo, só a França, a Bélgica, a Roménia e a (antiga) Jugoslávia integraram a prova, essencialmente graças aos esforços diplomáticos de Rimet.

Apesar de todas as dificuldades, o mais difícil estava feito. Os anos seguintes serviram apenas para dar largas ao seu sonho, com cada vez mais nações envolvidas e mais praticantes em todo o globo. Quando Rimet tomou as rédeas, a FIFA contava com uma dúzia de membros. Na sua despedida em 1954, esse número chegava já aos 85.

O legado de Jules Rimet

Mais do que o monumento que o imortaliza na vila de Theuley-les-Lavoncourt ou o nome dado ao troféu para o campeão do Mundo que existiu até 1970, o Campeonato do Mundo é o maior legado de Jules Rimet para o futebol. Um sonho ousado que a realidade e o tempo se encarregaram de realizar de forma ainda mais grandiosa do que o seu criador alguma vez pensara. O Campeonato do Mundo é para todos, mas é, sobretudo, de Jules Rimet.