No livro, "A Guerra de Mourinho", Diego Torres, jornalista do El País, critica a gestão do treinador português nos três anos que passou no Real Madrid. O jornalista recolheu testemunhos anónimos de dirigentes, funcionários e jogadores do Real Madrid para contar a história de Mourinho aos olhos de outras pessoas que trabalharam e sofreram com ele

Diego Torres contou ao jornal Público que não conseguiu entrevistar Mourinho, apesar de ter insistido, mas se pudesse "perguntava-lhe se alguma vez obteve benefícios económicos da sua relação com Jorge Mendes, ou da contratação de determinados futebolistas, tanto no Chelsea como no Real Madrid. E também lhe perguntava se não era demasiado evidente que o conflito de interesses que havia entre a sua posição de treinador do Real Madrid e a relação de amizade e profissional com Jorge Mendes ia provocar um desequilíbrio dentro da equipa [do Real Madrid] ".

Entre outros temas no livro, é abordado a relação de Mourinho com Jorge Mendes mas também com Florentino Perez, presidente dos merengues. Diego Torres conta porque o Special One falhou no Real Madrid.

"Em 2010, o Real Madrid era a instituição desportiva mais rica do mundo, com receitas brutas de 500 milhões de euros. Isso dá-lhe um poder único na história do desporto. E Mourinho tinha conseguido títulos em todos os clubes por onde tinha passado. Tinha acabado de conquistar a segunda Liga dos Campeões, com o Inter de Milão. Isso fê-lo pensar que tinha um poder que roçava a magia, que era um predestinado e que a sua fórmula era infalível. Era natural que ele pensasse que ia ser o Rei-Sol. A sensação de poder afastou-o da realidade. Este desfasamento entre o que sentia e o que estava a acontecer, em última análise, leva-o ao fracasso. Ganha uma Liga e uma Taça, mas em balanço é um fracasso, tendo em conta as expectativas e os meios à sua disposição", sublinha.

No livro, o jornalista fala de um Mourinho cruel que recorria a vários esquemas para manipular os jogadores.

"Creio que é comum que os treinadores manipulem os futebolistas. Mourinho leva-o a um extremo. É excessivo e transgressor. A mim também me surpreendem as coisas que descobri e compreendo que a resposta do leitor seja a incredulidade. O transgressor tem vantagem sobre quem cumpre as regras, conta sempre com o fator surpresa a seu favor. Neste sentido, Mourinho parte sempre com certa vantagem porque concebe o futebol e a competição como um jogo de transgressão. Interpreta o futebol no limite do regulamento e tenta ultrapassar esse regulamento", diz Torres, que conta que o técnico português teve sempre o apoio de Florentino Pérez em todas as decisões.

"Atuou sempre com impunidade e Florentino Pérez apoiou-o até às últimas consequências. Florentino gostava de tudo em Mourinho, exceto o futebol que a equipa jogava. Aborrecia-o. Mas para Florentino o futebol é o menos importante. Em caso de fracasso, Florentino sabia que Mourinho ia encarregar-se de encontrar culpados externos. Que metesse o dedo no olho do rival, que maltratasse alguns futebolistas, que se comportasse como um déspota, isso tanto fazia. E atraía-o muito a ideia de um treinador implacável com os jogadores. Florentino Pérez sente um desprezo secreto pelos futebolistas, acha que são empregados que devem submeter-se. Ele via em Mourinho o homem capaz de converter os futebolistas em marionetas", conta Torres.