António Pacheco, que morreu na quarta-feira, aos 57 anos, era um grande amigo de José Sousa Cintra, disse hoje o antigo presidente do Sporting, responsável pela aquisição do ex-futebolista ao rival Benfica no ‘verão quente’ de 1993.

“Era um amigo para a vida e fica a boa recordação do convívio que tive sempre com ele, mesmo depois de ter deixado de jogar. Foi uma pessoa fantástica. Fiquei triste [pela sua morte] e apresento condolências à família. Para quem o conheceu bem, fica um exemplo de caráter, responsabilidade, amizade e respeito”, referiu à agência Lusa o ex-dirigente.

Pacheco foi um dos protagonistas do 'verão quente' de 1993, ao rescindir com o Benfica devido a salários em atraso, em 19 de junho, nove dias depois de ter sido suplente não utilizado na final da Taça de Portugal conquistada pelas ‘águias’ frente ao Boavista (5-2).

Titular nesse duelo, Paulo Sousa desvinculou-se do clube da Luz pelas mesmas razões, com Sousa Cintra a aproveitar a crise financeira do rival, então comandado por Jorge de Brito, para fazer uma investida sobre os dois internacionais lusos no defeso de 1993/94.

Meio ano depois, o então presidente do Sporting ‘vingava’ a contratação fracassada de Paulo Futre, que havia deixado os espanhóis do Atlético de Madrid a meio de 1992/93 e chegou mesmo a acordo para voltar a Alvalade, mas assinou à última hora pelo Benfica.

“São coisas da vida. Vale a pena recordar que ele deixou o Benfica porque tinha de sair. Quis sair por força das circunstâncias, mas nunca abandonou o Benfica e o Sporting. Era uma pessoa com caráter, que defendia legitimamente os seus interesses, e foi sempre impecável como profissional. Acho que só deixa boas recordações a cada clube”, notou.

Em 01 de julho de 1993, dia do 87.º aniversário do Sporting, Sousa Cintra entrou na pista do antigo Estádio José Alvalade, em Lisboa, ao volante de uma viatura na qual estavam António Pacheco e Paulo Sousa, para euforia de centenas de adeptos ‘verde e brancos’.

“A prenda de aniversário veio do Benfica”, disse Sousa Cintra na altura, ao apresentar os dois reforços, convicto de que tinha deixado o rival lisboeta “de mão estendida” com “esta brilhante vitória”, num dia em que foi atirado ao ar pelos adeptos em jeito de celebração.

O Sporting tentou ainda recrutar João Vieira Pinto, que teve os ‘leões’ interessados em si aquando da mudança do Boavista para o Benfica no verão anterior e estava também de saída da Luz por atrasos salariais, mas as ‘águias’ resolveram a situação em tempo útil.

Além de selar a permanência do avançado numa reunião com ‘JVP’ e com o empresário José Veiga em Torremolinos, no sul de Espanha, Jorge de Brito resistiu aos pedidos dos adeptos ‘leoninos’ a Sousa Cintra para contratar Rui Costa, atual presidente ‘encarnado’.

João Vieira Pinto e Rui Costa viriam a ser determinantes para o título de campeão nacional logrado pelo Benfica em 1993/94, com dois pontos de avanço sobre o FC Porto, segundo classificado, e três face ao Sporting, terceiro, que vendeu Paulo Sousa aos italianos da Juventus no defeso seguinte, mas ficou com António Pacheco por mais uma temporada.

O ex-extremo somou três golos em 35 jogos e ganhou uma Taça de Portugal (1994/95) pelo clube de Alvalade, longe da fasquia revelada no rival da Luz, pelo qual juntou quatro troféus, perdeu duas finais da Taça dos Campeões Europeus e superou as 200 partidas.

“Parte uma pessoa que marcou Benfica e Sporting. Até a forma como ele saiu do Benfica para o Sporting mostra a sua categoria, o caráter e responsabilidade. Portugal deve-lhe muito como jogador. Partiu um grande amigo. Sporting e Benfica seguramente lamentam muito e ele jamais será esquecido nos clubes por onde passou”, terminou Sousa Cintra.