“É normal que haja um certo receio, porque os jogadores dependem de uma situação laboral subordinada à entidade patronal. Quando há uma dependência maior há mais fragilidade e aumenta o receio de poderem sofrer represálias”, disse à Agência Lusa o presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF).

À excepção dos aveirenses, que pagaram pela última vez os vencimentos referentes a Outubro, e do Varzim, cujos jogadores receberam Setembro e aproximadamente metade do mês seguinte, os jogadores dos restantes clubes das ligas profissionais garantiram ter chegado ao Natal com os ordenados em dia.

Outros houve, da Liga principal, que, contactados pela Lusa, se escusaram a responder por considerarem o assunto como “muito particular”, outros questionaram a sua relevância e, entre várias hesitações, alguns remataram: “Não lhe diz respeito”.

“Eu compreendo esta posição. O que mais me perturba nesta época natalícia é a hipocrisia de alguns dirigentes que não pagam aos jogadores e pensam contratar novos jogadores e treinadores. É de uma irresponsabilidade total. Como é que um clube sem capacidade financeira se pode endividar mais”, questionou o presidente do SJPF.

Admitindo que a “situação não é fácil” e “é público e notório que há soluções de incumprimento”, o sindicalista atribui os atrasos salariais a “problemas de tesouraria” de alguns clubes ou de “problemas estruturais” de outros.

“Não acredito que os jogadores portugueses tenham, este ano, um Natal melhor. Acho não querem arriscar a ficar sem receber e, eventualmente, a não conseguir outro contrato, porque querem garantir a actividade desportiva e para se valorizarem”, sublinhou o sindicalista, antevendo que “a bolha rebente em Janeiro”.

Para explicar este prognóstico, Evangelista adianta como justificações o encerramento do “mercado” de transferências e a definição da posição dos clubes nas tabelas classificativas, acrescentando que o “silêncio” dos jogadores depende da relação laboral que cada um detém.

“Há situações em que há incumprimento, mas há clareza e transparência entre os jogadores e os dirigentes. Nestes casos, os jogadores, apesar das dificuldades, confiam numa relação saudável e evitam denunciar, com receio de criar instabilidade”, referiu Evangelista.

Admitindo que 70 por cento dos jogadores acredita nos dirigentes, o sindicalista contrapõe com os restantes que enfrentam relações mais tensas.

“O que é grave é quando não existe diálogo, seja por descrédito, por prepotência dos dirigentes ou quando as promessas são repetidas mas não têm qualquer tipo de credibilidade”, concluiu.