Vítor Pereira, que recusou abordar em particular as observações negativas à actuação do árbitro Elmano Santos no FC Porto-União de Leiria de domingo, confessou tristeza "com todas as críticas que são feitas" e salientou que a missão da CA é a de "garantir a imparcialidade e de ser uma mais-valia para o futebol".

"Quando estes dois pressupostos não são cumpridos, sentimo-nos tristes, quaisquer que sejam os intervenientes, clubes e árbitros. A equipa toda sente essa tristeza, a começar com aqueles que foram intervenientes directos e que são aqueles que mais sofrem e sentem esses insucessos e essas deficiências de desempenho", acrescentou.

O dirigente do órgão da Liga responsável pela arbitragem declarou que a CA está "ainda a coligir dados" sobre as arbitragens na primeira volta dos campeonatos portugueses de índole profissional, mas adiantou estar "satisfeito com o extraordinário esforço que os árbitros têm feito para estar à altura das expectativas com todos os condicionalismos que têm".

Juntamente com Pedro Dionísio, professor do ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), Vítor Pereira orientou a tese de mestrado de Henrique Mateus, árbitro assistente dos quadros da Federação Portuguesa de Futebol, subordinada ao tema "Imagem da Arbitragem no Futebol de 11".

A tese de Henrique Mateus, apresentada hoje no âmbito do Mestrado Executivo de Marketing Desportivo e resultante de uma sondagem realizada de Agosto até ao início de Outubro, revelou que é negativa a imagem dos árbitros.

Vítor Pereira não recebeu a conclusão com surpresa e notou que os dados do estudo científico "devem ser motivo de reflexão para toda a gente, para a própria organização, para os órgãos que tutelam a modalidade".

No entanto, o presidente da CA da Liga ressalvou que os 2200 participantes na amostra responderam ao questionário "online" numa altura "em que houve uma nomeação que foi contestada".

"As nomeações são um factor de formação e de crescimento de carreira. Ainda há alguns árbitros hoje que estão a ser prejudicados pelo facto de há mais de 10 anos ter existido esse modelo de nomeação, perfeitamente aleatório por sorteio geral, com árbitros jovens e sem preparação a serem nomeados para jogos de grande dificuldade e demonstraram que não estavam preparados", salientou Vítor Pereira.

Outra das conclusões da tese, que resulta de um protocolo entre a Liga e universidades, aponta para a introdução de novas tecnologias e a profissionalização, questões a que Vítor Pereira não se opõe.

Se quanto a novas tecnologias, o ex-árbitro internacional diz que "mais tarde ou mais cedo" será uma realidade no futebol, quanto à profissionalização da arbitragem no futebol revelou que, ainda esta temporada, será implementado o projecto-piloto, que, assinalou, "entrará em vigor dentro de dois a três anos".

Vítor Pereira pronunciou-se ainda quanto à exigência legal da existência de um único Conselho de Arbitragem, como defendeu na semana passada Gilberto Madail, presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

"A minha posição é a mesma de há muitos anos. Não é um problema de estrutura orgânica, é de pessoas e de actores. A opinião de Madail deriva da necessidade do cumprimento legal. Não há volta a dar, há que cumprir a lei e a FPF terá, tal como todas, de enquadrar os seus estatutos a esta realidade", disse Vítor Pereira.

O responsável pela arbitragem na Liga, cujo mandato termina no final desta época, não abriu o jogo quanto à sua disponibilidade para integrar um Conselho de Arbitragem único.

"Neste momento, estamos empenhados em chegar ao fim do mandato, com a consciência tranquila de que a equipa da CA fez o melhor ao longo destes quatro anos. Em 2010, estou a fazer 30 anos de completa e total dedicação à arbitragem. Continuarei na arbitragem qualquer que seja a função se eu entender que sim", disse.