Em causa está a venda do terreno do Pavilhão Antoine Velge e logradouro (Lote 9) por 100 000 euros à imobiliária Sadisetúbal e a posterior venda à Sociedade Lusa de Negócios (SLN) de 60 por cento das acções daquela imobiliária, que antes era detida a 100 por cento pela Sociedade Geral de Participações Sociais (SGPS) do Vitória de Setúbal.

Os dirigentes sadinos garantem que a venda do Pavilhão Antoine Velge e terrenos adjacentes não estava autorizada pelos sócios e dizem que não se percebe para onde foi o dinheiro da mesma, pelo que defendem a realização de uma auditoria às contas do clube de 2000 a 2002.

De acordo com a documentação exibida à Lusa pelos dirigentes sadinos Américo Rosa e João Martins, a ata n.º 38, da Assembleia Geral (AG) de 27 de Julho de 2000, autorizava a direcção do clube a constituir a sociedade imobiliária Sadisetúbal no âmbito de uma parceria com o BPN, em que a participação do clube, de 51 por cento, seria realizada com o ingresso da parcela de terreno a desanexar do Lote 6, junto ao Estádio do Bonfim.

Américo Rosa e João Martins defendem que é justamente na transcrição de um excerto daquela autorização para uma proposta que foi posteriormente aprovada na AG de 12 de Outubro de 2000, que se pode encontrar a alegada deturpação que permitiu a realização do negócio a 12 de Dezembro de 2000.

“Na acta n.º 39, diz-se que se mantém a autorização de alienação ou oneração das posições na sociedade a constituir, mas, em vez de se dizer que autorizava a alienação ou oneração das posições na sociedade a constituir a ‘favor da SGPS’, como na ata n.º 38, diz-se a ‘favor do BPN’”, esclareceu João Martins.

O dirigente sadino foi claro: “Em lado nenhum se dá autorização para a venda da parcela, mas sim para o seu ingresso na sociedade imobiliária (Sadisetúbal)”, disse, desvalorizando o facto de a alegada deturpação ter sido aprovada pela AG de 12 de Outubro de 2000.

Em declarações à Lusa, João Martins lembrou que as deliberações aprovadas na AG de 27 de Julho de 2000 estabeleciam que as soluções a encontrar para garantir a viabilidade financeira do Vitória de Setúbal - no âmbito do denominado ‘projecto Vitória Século XXI’, apresentado ao tempo da direcção presidida por Jorge Góis - não deveriam passar pela venda de património.

O dirigente sadino disse ainda estranhar o facto de a Sadisetúbal ter sido constituída com cinco pessoas ligadas ao grupo SLN/BPN - uma das quais era na altura presidente do conselho de administração.

“No nosso entendimento, este facto pode indiciar que já haveria outros acordos firmados, mas que não foram assumidos publicamente quando foi constituída a Sadisetúbal”, disse João Martins, salientando que as pessoas em causa são arguidas no denominado processo BPN.

Ainda segundo o dirigente, “essas cinco pessoas que integravam a Sadisetúbal são hoje acusadas pela nova administração da SLN de serem ‘verdadeiros cabecilhas de uma teia enredada de fraudes, burlas, falsificações e outros actos ilícitos, que tudo fizeram para prejudicar a SLN, o BPN, os seus accionistas e o público em geral’”.

A Agência Lusa contactou o antigo presidente do Vitória de Setúbal Jorge Góis, que liderava o clube quando se realizou a venda dos terrenos do Pavilhão Antoine Velge, mas o antigo dirigente escusou-se a fazer qualquer comentário.