O director executivo da Associação das Ligas Europeias de Futebol Profissional (EPFL), o português Emanuel Medeiros, alertou hoje, em declarações à Agência Lusa, para o «risco sistémico decorrente das práticas de gestão de risco por parte dos clubes».

«A manter-se esta prática a bolha acabará por rebentar», advertiu Emanuel Medeiros, comentando o relatório elaborado pela UEFA sobre as finanças dos clubes, segundo o qual «56 por cento dos 733 clubes de futebol europeus da primeira divisão registaram perdas em 2009».

Não obstante, o director executivo da EPFL vislumbra um dado positivo:

«Há dois anos estavam 70 clubes no ‘vermelho’ e os dados mais recentes indicam 56 clubes nessa situação, o que traduz uma abrandamento da tendência despesista.»

O relatório da UEFA revela que 11 clubes estariam privados de participar nas competições europeias caso as novas exigências decorrentes do princípio do “fair-play” financeiro, que entrará em vigor de forma progressiva, estivessem já em vigor. As primeiras sanções serão aplicadas a partir da época 2014/2015.

«Este dado indica a necessidade de prudência e racionalidade financeira porque um dos objectivos destas regras, que estão num período transitório, é permitir aos clubes adaptarem-se às mesmas e corrigir a sua gestão deficitária», referiu Emanuel Medeiros, numa alusão ao princípio do “fair-play”, segundo o qual nenhum clube pode despender mais dinheiro do que aquele que gerar para poder participar nas taças europeias.

Para o director executivo da EPFL, os números do relatório da UEFA vêm dar razão «aos alertas e denúncias» que fez:

«O passivo dos clubes totalizou 12,9 milhões de euros, mas contadas as despesas verifica-se que 2,2 milhões são dívidas de transferências de jogadores, das quais 800 mil euros são dívidas em mora há mais de um ano.»

Cingindo-se à situação financeira dos clubes portugueses no contexto europeu, sublinhou a necessidade daqueles «convergirem em estratégias» no sentido de efectuarem «reformas essenciais», congregando «o Governo e o mundo desportivo, na linha da proposta apresentada pelo presidente da Liga, Fernando Gomes».

«Essas reformas são vitais para o futebol português se posicionar com sustentabilidade no plano europeu», disse Emanuel Medeiros.

O responsável da EPFL abordou ainda a harmonização do período de transferências e a hora de fecho destas, que varia de país para país:

«A partir da última segunda-feira, clubes, jogadores, agentes e comunicação social têm disponível no nosso ‘site’ a contagem decrescente para que possam saber quanto tempo falta para o encerramento das várias Ligas.»

Emanuel Medeiros aludiu, ainda, à necessidade dos governos adoptarem legislação sobre as apostas desportivas e os conteúdos específicos dos clubes, considerando o tema «inadiável» e deixando um recado ao executivo português.

«A Assembleia da República tem revelado uma indiferença total, esquecendo-se que se trata de um sector estratégico para o desenvolvimento do país, razão pela qual o Governo deve intervir e assumir as suas responsabilidades nesta matéria», rematou.