O primeiro título europeu do Benfica teve como intérpretes 14 futebolistas, numa herança que se perpetua na memória, mas que alguns não viveram tempo suficiente para comemorar os 50 anos da sua conquista.

Na campanha europeia finalizada em Berna, numa época sem substituições nos jogos, o treinador húngaro Bélla Guttmann utilizou 14 jogadores, seis entretanto falecidos: Costa Pereira, Neto, Germano, Santana, Cavém e Águas.

O avançado José Águas foi uma das figuras mais emblemáticas e quem ergueu a taça após o apito final do árbitro suíço Gottfried Dienst, isto depois de ter marcado o primeiro golo benfiquista face ao FC Barcelona (3-2).

Águas, conhecido como o “cabecinha de ouro”, pelos seus golos de cabeça, foi o melhor marcador do percurso "encarnado" de 1960/61 (11 golos) e a sua veia goleadora ficou patente em 14 épocas de Benfica.

Descoberto numa digressão a Angola, mostrou época após época ter um faro invulgar pelo golo, ele de quem se dizia que não gostava de jogar e encarava os jogos como uma missão.

Não foram só os golos ou os títulos europeus a herança que deixou, já que veria um dos seus filhos, o único rapaz (Rui Águas), notabilizar-se também como avançado do Benfica nas épocas de 80 e 90.

No apoio a Águas, o “Benfica europeu” teve outros jogadores de exceção: Cavém – na final de Berna jogou no lado esquerdo do ataque -, e o médio interior direito Santana, o “molengão da Catumbela”.

Cavém foi considerado um dos mais polivalentes jogadores em Portugal, jogando em quase todos as posições e, se na final de Berna foi extremo, terminou a carreira como defesa direito, depois de 14 temporadas de “águia ao peito”.

O jogador, a quem ainda pertence a proeza de ter marcado o golo mais rápido de sempre numa final da Taça (1-0, aos 15 segundos em triunfo sobre o FC Porto, em 1959), era também conhecido por crenças muito particulares.

A anteceder as duas finais europeias ganhas pelo Benfica, Cavém sonhou com uma figura que lhe sugeria que não cortasse a barba antes dos jogos: assim fez.

Com destreza e inteligência para servir o ataque, o Benfica contou também com o angolano Santana, mais recuado no meio-campo, e que até à final ainda marcou três golos, apesar do apelido de “molengão”.

Na época seguinte, foi sacrificado para a entrada em cena de Eusébio, quando o plantel “encarnado” se questionava sobre quem sairia da equipa para entrar o “pantera negra”.

Passou a ser uma espécie de trunfo – ainda fez dois jogos (dois golos) na campanha europeia seguinte -, e estaria no Benfica até 1967/68.

Na defesa, Germano era a referência: um dos melhores centrais de sempre, aliando visão de jogo a posicionamento irrepreensível, o que lhe permitia, por vezes, colmatar alguns erros de marcação da equipa.

Em San Siro, na final com o Inter (1-0), foi chamado para substituir entre os postes o guarda-redes Costa Pereira, que saiu lesionado aos 57 minutos. Até final, defendeu tudo, mas o Benfica saiu derrotado.

Num jogo em que o terreno estava pesado e em más condições devido ao temporal que se abatera, Costa Pereira acabou por ficar marcado por um lance infeliz, em que deixou a bola rematada por Jair passar por debaixo das pernas.

Capaz de ter uma saída fora de tempo e logo de seguida fazer uma grande defesa, tinha um papel importante no plantel e foi dos primeiros jogadores, com uma cultura acima da média, a discutir prémios e ordenados em nome dos colegas.

O médio Neto completa os seis jogadores de Berna já desaparecidos, com a importância de ter sido um dos “pilares” da primeira final europeia, o homem que salvou em cima da linha um golo praticamente certo dos catalães.

Com sete épocas de Benfica (1958/66), foi um dos totalistas do percurso até Berna e na final evitou a igualdade a dois golos antes do intervalo, com Guttmann no balneário a dizer como “o jogo estava ganho”.

A imprensa atribuiu o feito a Mário João, que também salvara uma bola em cima da linha aos dois minutos, mas o defesa corrigiu a ideia e disse ter sido Neto, conhecido como a “formiga”, devido a um trabalho incansável no meio-campo “encarnado”.