José Mourinho acredita que o Sporting tem mais caminho para percorrer do que FC Porto e Benfica, mas sublinha a qualidade de Domingos Paciência e dos novos responsáveis do clube, que «precisa de manter a calma».

Ao abordar o futebol português, numa entrevista à agência Lusa, o treinador do Real Madrid disse que o Sporting «parte atrás» de FC Porto e Benfica para a nova época, por tudo ser novo: treinador, direção, estrutura do futebol, jogadores e objetivos, neste caso «porque é tentar voltar aos objetivos de ganhar».

«Parte atrás. Agora, o treinador é ótimo, e provou que era ótimo treinando equipas de expressão diferente, as pessoas que estão na estrutura do futebol têm experiência, sabem o que querem, trabalham bem, precisam um bocadinho mais de tempo, eu acho», disse.

José Mourinho pensa que «o Sporting precisa de manter a calma, tem que se equilibrar, tem de confiar nas pessoas, tem que perceber que o caminho não era o caminho do passado, tem que dar tempo».

«Mas, de um modo muito pragmático e objetivo, acho que o Sporting tem um caminho a percorrer e o FC Porto e o Benfica têm um caminho mais pequeno a percorrer», defendeu.

Para Mourinho, o Benfica é «uma boa equipa», candidata a «ganhar o campeonato» e a «seguir em frente na ‘Champions’ em função do grupo em que está inserida», pois mantém o treinador pelo terceiro ano, a estrutura diretiva e «jogadores fundamentais».

«OK, perdeu também alguns, mas mantém alguns jogadores fundamentais, reforçou-se, não parte de zero», afirmou, adiantando que o campeão FC Porto «mudou de treinador, mas este treinador fazia parte da equipa técnica passada» e, segundo coisas que leu, «não era um treinador-adjunto normal, era mais do que um treinador-adjunto».

«Portanto, a mesma estrutura diretiva, a mesma estrutura de trabalho, os mesmos jogadores. Perde um grande jogador, mas o FC Porto é o FC Porto, portanto, na minha opinião, também um grande candidato ao título e candidatíssimo a andar para a frente na ‘Champions League’», frisou.

Apesar das saídas de Falcao, do FC Porto para o Atlético de Madrid, e Fábio Coentrão, do Benfica para o Real Madrid, Mourinho considera que na Liga portuguesa continuarão a existir jogadores interessantes para os maiores clubes europeus.

«Há sempre jogadores portugueses que vão aparecendo, as equipas portuguesas, como não são muito, muito, muito poderosas economicamente, à partida devem cometer menos erros na seleção dos seus jogadores do que as equipas que são muito poderosas e têm o direito a errar», referiu.

Mourinho sublinhou que os clubes portugueses «fazem uma muito boa seleção principalmente dos jogadores sul-americanos e, apesar de não ter muita credibilidade» no estrangeiro, a Liga portuguesa «é um campeonato onde principalmente as equipas grandes jogam bem» e «será sempre um mercado de referência».

«Há um aspeto que também me parece fundamental, que é: os clubes grandes em Portugal são grandes. E os jogadores, apesar de jogarem a um nível de qualidade eventualmente mais baixo do que nos grandes campeonatos, vivem o dia a dia dos grandes clubes», sustentou.

Por isso, quando chegam aos grandes clubes europeus, «podem sentir um bocadinho a diferença ao nível desportivo, mas não sentem absolutamente nada ao nível da pressão de jogar num grande clube, da responsabilidade de jogar num grande clube, da responsabilidade de jogar para uma massa adepta exigente, da responsabilidade de viver com uma imprensa que é critica, que é exigente».

«Para o Fábio [Coentrão], sair do Benfica e chegar ao Real Madrid, por exemplo, não é uma diferença significativa, o jogador não sente grandes diferenças na sua vida e no seu trabalho diário», reconheceu.

José Mourinho desdramatizou a situação económica dos principais clubes portugueses, afirmando que se o FC Porto e o Benfica «tivessem uma necessidade gritante de fazer dinheiro, faziam», pois ambos têm «jogadores que podem ser comprados».

«Se não os vendem é porque não querem, se não os vendem é porque pensam que ganhar também aumenta o valor de mercado dos seus ativos e porque acham que ganhar é fundamental na história, no equilíbrio, no dia a dia dos clubes e dos adeptos», disse.

Segundo Mourinho, que citou os portistas Iturbe e James Rodriguez e o benfiquista Witsel, «há três, quatro, cinco jogadores por ali que, com crescimento sustentado em vitórias, em títulos, que projetam os jogadores para outras dimensões, valem muito».

«Pode-se ter o dinheiro no banco e pode-se ter o dinheiro no campo e, se calhar, eles têm pouco dinheiro no banco, mas têm bastante dinheiro no campo. Por isso, acho que é mais dramática a situação e a vida de clubes de menor expressão e também de menores receitas, do que propriamente a vida dos clubes grandes, que acabam sempre, com mais ou menos dificuldades, por encontrar soluções», concluiu.