O perito em consultoria financeira britânico Dan Jones apresenta reservas face aos fundos de investimento externos para compra de futebolistas por parte dos clubes portugueses e aconselha-os a olharem mais pelos seus «clientes», os sócios e adeptos.

Em entrevista à agência Lusa, o diretor da divisão de desporto da consultora Deloitte afirmou que «Portugal, um país que tem sido muito bom a produzir grandes jogadores, enfrenta muitas das mesmas questões de outras indústrias do futebol e de outros desportos».

«A coisa que me preocupa um pouco no futebol português é a influência de partes exteriores, investidores externos, com fundos de jogadores. Gostaria de ver mais controlo e o retorno e benefícios económicos de desenvolver grandes jogadores a ficarem no futebol português e nos clubes portugueses», disse.

Benfica e Sporting têm este tipo de fundos de investimento, além de a alienação de parte dos direitos desportivos (“passes”) de jogadores a investidores externos ser uma prática constante de diversos clubes lusos, designadamente o campeão, FC Porto.

«Sei que os tempos não estão fáceis e que as pessoas têm de arranjar dinheiro onde puderem, mas a longo prazo isso [ausência de investidores externos] seria mais benéfico para o futebol português», continuou.

Para Jones, o “desporto-rei” é «um negócio de clientes», mas «eles não gostam de ser chamados assim, são fãs, adeptos, muito mais ávidos do que um cliente normal» e «os clubes têm de os ouvir e dar-lhes o que eles pedem».

«Esses adeptos locais são de onde vêm a maior parte das receitas. Ir à procura de fãs do outro lado do oceano, do outro lado do Mundo, dá muito trabalho e não dará assim tanto lucro», afirmou.

O perito considerou que «a internacionalização, para a vasta maioria dos clubes, faz-se muito melhor de forma coletiva, juntando-se a outros clubes», já que esses esforços executados de forma isolada são, quase sempre, contraproducentes.

«É muito difícil. Ter uma Liga competitiva é a chave, mas uma Liga mais pequena pode não ser a resposta mais correta. É também uma questão política, porque não se está a partir de uma folha em branco. As mudanças têm sempre de ser explicadas e bem, e as pessoas têm de concordar. Não é assim tão simples», concluiu, sobre a falta de competitividade do campeonato português e a possibilidade de redução de equipas no primeiro escalão.