O Benfica e o FC Porto disputam na sexta-feira, a 10 jornadas do final da Liga de futebol, um clássico que deixou de ter o caráter decisivo, face aos cinco pontos perdidos pelos “encarnados” nos últimos dois jogos.

A ter mantido tal vantagem, o Benfica receberia o FC Porto numa situação privilegiada, no plano psicológico – pelo conforto que conferiria aos seus jogadores e pela pressão que colocaria nos adversários – e de estratégia de jogo, em função da margem de manobra tática que sobraria a Jorge Jesus para forçar o rival a assumir a despesa do jogo e o maior quinhão de riscos.

Esbanjada essa vantagem importante – o Benfica perdeu quase tantos pontos (cinco) em duas jornadas quantos (seis) nas restantes 18, nas quais só havia cedido três empates –, os “encarnados” recebem o rival com os níveis de confiança, de alguma forma, afetados, ao mesmo tempo que injetaram um suplemento anímico num adversário que carecia dele como de “pão para a boca”.

Com efeito, a forma como o FC Porto foi eliminado pelo Manchester City nos 16 avos de final da Liga Europa, troféu de que é detentor, por resultado acumulado tão desnivelado (6-1), o maior de sempre na história portista, deixa sempre mossa no espírito e na confiança dos jogadores.

Estas condicionantes e o atual momento de cada uma das equipas aumentam o grau de imprevisibilidade do clássico, numa altura em que o Benfica, que vinha a ser a equipa que melhor futebol praticava, aliando eficácia e nota artística, como Jorge Jesus tanto gosta de salientar, dá sinais indisfarçáveis de quebra física.

Em seu abono, o facto de o plantel desta época ter muito mais e melhores soluções para fazer face a essa quebra do que na anterior, face à qualidade indiscutível dos reforços contratados, em particular de Nolito, Witsel, Garay e Bruno César, a ponto de um jogador da dimensão de Saviola raramente entrar na opções de Jesus.

Importante é também o previsível regresso à competição de Javi Garcia, um jogador fulcral no equilíbrio da equipa e muito forte nos lances de bola parada, quer defensivos quer ofensivos, e cuja ausência Matic ficou a milhas de colmatar.

Por parte do FC Porto, salta à vista que a produtividade da equipa tem sido claramente inferior à soma das suas individualidades, o que traduz a incapacidade de Vítor Pereira para potenciar um dos melhores plantéis de sempre do clube.

A valia individual do plantel, por um lado, reforçado com as entradas de Lucho e do ponta de lança austríaco Janko, que lhe proporcionam mais qualidade e soluções ofensivas, e a sua maior consistência defensiva, por outro, em contraponto com um Benfica que é uma equipa mais balanceada para o ataque, expondo-se mais e assumindo mais riscos, podem ser trunfos para a Luz, se não se repetirem erros individuais defensivos grosseiros, como os que foram cometidos nos dois jogos da eliminatória com o Manchester City.

Neste contexto, com as duas equipas em igualdade pontual, é de esperar um jogo mais fechado, condicionado pela rigidez e disciplina táticas, na medida em que o FC Porto deixou de ter a “obrigação” de ganhar, como teria se fosse à Luz com cinco pontos de atraso, e o Benfica deixou de ter margem para gerir o jogo de uma posição confortável.

Assim sendo, mais do que nunca, será o detalhe a "chave" para as duas equipas chegarem à vitória, seja a eficácia na execução de um lance de bola parada – pormenor no qual o Benfica leva alguma vantagem sobre o FC Porto – seja num lance de inspiração individual, suscetível de criar um desequilíbrio que se traduza num golo.

Artistas para isso não faltam, em particular Aimar, Nolito, Gaitán, Rodrigo e Cardozo, pelo Benfica, James, Lucho, Hulk e Moutinho, por parte do FC Porto, mas as condicionantes deste jogo levam a prever que, na Luz, os golos vão ser um bem escasso.

Por outro lado, o aspeto físico – qual das equipas irá apresentar maior frescura? – e a capacidade de recuperação ao esforço dos últimos jogos pode vir a ter influência no desfecho do jogo, sendo que o Benfica beneficia do facto de o FC Porto ter jogado a meio da semana passada um jogo desgastante com o Manchester City e ter tido mais 24 horas de recuperação, por ter jogado no sábado com a Académica, enquanto os portistas só o fizeram no domingo com o Feirense, num jogo em que não pôde gerir o esforço como pretenderia.

Na vertente física entram, ainda, em equação para o clássico as cedências de jogadores importantes de cada uma das equipas – Maxi Pereira, Luisão, Garay, Witsel e Rodrigo, no Benfica, e Hulk, James, Moutinho, Rolando, Cristian Rodriguez e Défour, no FC Porto – às respetivas seleções e a forma como esse desgaste extra se repercutirá na sua exibição no clássico, ou uma eventual lesão os afastará do mesmo.