O presidente da Associação Nacional dos Treinadores de Futebol (ANTF) alertou hoje para o facto de existirem clubes que já não têm suporte financeiro para remunerar os seus técnicos, considerando que a profissão está a ser duplamente penalizada.

«Há amplas dificuldades em muitos locais. Sabemos de clubes com dificuldades e que não têm suporte para manter treinadores remunerados, quando, em épocas anteriores, havia condições para remunerar de uma forma satisfatória os profissionais», disse à agência Lusa Silveira Ramos, comentando as medidas de austeridade apresentadas na terça-feira pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar.

Para o responsável, há já muitos treinadores que viram as suas retribuições diminuídas este ano, o que leva a que tenham «preocupações acrescidas», uma vez que são profissionais precários.

«São profissionais que exercem a sua atividade em contratos a prazo ao longo da sua vida. Salvo raras exceções, não têm uma contratação fora dessa condição. O agravamento das condições pecuniárias já é penalizador e, ser precário toda a vida, é duplamente penalizador», disse.

Silveira Ramos desmistificou a ideia de que os treinadores de futebol têm salários elevados. Referiu que alguns têm essa sorte, mas que «não é o geral da profissão», acrescentando que, mesmo esses, são trabalhadores precários.

«É uma carreira com particularidades, não reclamamos. Sabemos que é assim a nossa condição profissional. Alguns têm uma possibilidade de defesa maior com a retribuição volumosa, mas há os outros, com carreiras curtas e inseguras e que, com estes cortes, são duplamente penalizados», frisou.

O ministro das Finanças anunciou na terça-feira, durante a apresentação das conclusões da "troika" à quinta avaliação do programa de ajustamento, o adiamento por um ano do prazo para cumprimento do défice, para 2,5 por cento em 2014.

Vítor Gaspar anunciou um novo conjunto de medidas de austeridade, com destaque para a redução das reformas acima de 1.500 euros, a redução dos escalões do IRS, implicando um acréscimo do pagamento médio dos cidadãos, e ainda o aumento de tributação dos imóveis considerados de luxo (acima de um milhão de euros).