No rescaldo do jogo entre a Académica e o Benfica, que gerou protestos deste último à arbitragem de Carlos Xistra, o SAPO Desporto falou com o antigo árbitro Paulo Paraty, que assume que Xistra nem sempre acertou, mas que muitos dos lances eram difíceis.

SAPO Desporto: Como vê os lances polémicos do jogo? Foram mal assinalados?

Paulo Paraty: De facto há um lance em que não deveria ter sido assinalada grande penalidade, se bem que o lance seja muito difícil de avaliar. É um lance que é jogado por três jogadores, que é o segundo penalti assinalado à Académica. E é provável que o Carlos Xistra não se tenha apercebido do Garay chegar primeiro à bola e depois todo o contacto ser da própria ação de jogo. Nesse lance o ideal teria não ter sido marcada a grande penalidade. Talvez a falha mais importante. Em relação às outras duas grandes penalidades, a que foi assinalada a favor do Benfica parece-me absolutamente correta. Há ali um braço de um jogador da Académica, que está fora da posição, que está aberto. A grande penalidade e o cartão vermelho parecem-me perfeitamente adequados. O lance da primeira grande penalidade contra o Benfica, que é uma falta do Maxi Pereira claríssima, pensa que a televisão não nos esclarece cabalmente se a falta é cometida dentro ou fora. Temos que nos lembrar que a linha faz parte da área. Há uma dificuldade muito grande. Ele tomou a decisão e parece-me aceitável.

SD: Considera exageradas as críticas do Benfica?

PP: Para o tom que este campeonato estava a ter e já se falou de árbitros, já várias pessoas mostraram o seu desagrado, digamos que este protesto do Benfica está um pouco acima do tom que tem sido normal. Mas é normal e pode ser que com o passar dos dias volte alguma acalmia. De um modo geral, Carlos Xistra, excluindo estes lances, teve um trabalho ponderado e bem conduzido. Tem estas três e mais uma decisão difíceis, não acertou em todas, mas não foi o único interveniente do jogo a não acertar tudo. Nestas críticas, tentar justificar tudo com o árbitro parece-me exagerado.

SD:O facto de quando há polémica, quando os árbitros estão sob críticas, pararem um ou dois jogos não é prejudicial? Não vai dar razão aos clubes?

PP: Não. Apercebemo-nos que, mesmo sem os clubes terem razão, havendo um ou outro lance mais polémico, e muitas vezes pela voz da imprensa se falar muitas vezes disso, nota-se que o Conselho de Arbitragem, não sei se para proteger o árbitro ou a si, muitas vezes para e suspende o árbitro. Muitas vezes estas coisas vêm a público numa perspetiva punitiva do árbitro. Era importante que funcionasse numa perspetiva de defesa do árbitro e de motivação. Não me parece lógico que voltasse a ter um novo jogo de grande importância uma semana depois. Se parasse uma semana não fazia mal.

SD: A profissionalização da arbitragem seria a única forma de combater estas situações?

PP:  A única nunca. Pode ser uma forma que ajude. Mas continuo a ver muitas dificuldades nesta profissionalização. Li há dias um artigo, em que não há um consenso, ou não há um equilíbrio, não há um trabalho de fundo e devidamente esclarecido e esclarecedor no próprio Conselho de Arbitragem a propósito do processo da profissionalização. Tenho a noção de que há muitos entraves a isso. Seria algo que naturalmente poderia ajudar, mas não iria resolver os problemas todos.